terça-feira, 20 de março de 2018

Por que Jesus Veio Morrer?


John Piper






Não é a mesma coisa ser justificado perante Deus e ser perdoado por Deus. Ser justificado em um tribunal não é o mesmo que ser perdoado. Ser perdoado indica que eu sou culpado, e que meu crime não é considerado. Ser justificado indica que fui julgado e considerado inocente. Minha causa é justa. Eu estou justificado. O juiz diz: "Não é culpado".

Justificar é um ato legal. Significa declarar que alguém é justo. É um veredito. O veredito da justificação não torna uma pessoa justa. Ele declara uma pessoa justa. É baseado em alguém que é realmente justo. Podemos ver isso mais claramente quando a Bíblia nos diz que, em resposta ao ensinamento de Jesus, o povo “justificou” a Deus (Lucas 7:29). Isso não significa que eles fizeram com que Deus se tornasse justo (pois Ele já era justo). Isso significa que eles declararam que Deus é justo.

A transformação moral pela qual passamos quando confiamos em Cristo não é justificação. A Bíblia geralmente chama isso de santificação: o processo de se tornar bom. Justificação não é esse processo. A justificação não é um processo. É uma declaração que acontece em um único momento. É um veredito: Justo! Justificado!


O jeito comum de justificar-se em um tribunal humano é obedecer à lei. Nesse caso, o júri e o juiz simplesmente declaram o que é verdade a seu respeito: Você obedeceu à lei. Eles justificam você. Mas no tribunal de Deus, nós não temos obedecido à lei. Portanto, em termos comuns, não temos esperança alguma de sermos justificados. A Bíblia diz: “Absolver o ímpio e condenar o justo são coisas que o Senhor odeia.” (Provérbios 17:15).  E surpreendentemente, por causa de Cristo, a Bíblia também diz que Deus “justifica os ímpios” que confiam em Sua graça (Romanos 4: 5). Deus faz algo que parece abominável.

Mas por que isso não é abominável? Ou, como pode a Bíblia dizer que Deus é “justo e justificador daquele que [simplesmente!] tem fé em Jesus” (Romanos 3:26)? Não é abominável para Deus justificar os ímpios que confiam Nele, por duas razões. Uma é que Cristo derramou Seu sangue para cancelar a culpa do nosso crime. A Bíblia assim diz: "Agora fomos justificados por seu sangue" (Romanos 5: 9). Mas isso é apenas a remoção da culpa. Isso não nos declara justos. Cancelar nosso fracasso em cumprir a lei não é o mesmo que nos declarar obedientes à lei. Quando um professor cancela a nota de um teste no qual você fracassou, não é o mesmo que declarar que você obteve nota máxima. Se o banco perdoasse as dívidas da minha conta, isso não seria o mesmo que declarar que eu sou rico. Assim também, cancelar nossos pecados não é o mesmo que nos declarar justos. O cancelamento precisa ocorrer. Isso é essencial para a justificação. Mas há outra razão pela qual não é abominável que Deus justifique os ímpios pela fé.


Justificação não é simplesmente o cancelamento da minha injustiça. É também a imputação (atribuição) da justiça de Cristo em meu favor. Eu não tenho uma justiça apresentável perante Deus. Minha reivindicação diante de Deus é a seguinte: não tenho “a minha própria justiça que procede da Lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo" (Filipenses 3: 9).

Essa é a justiça de Cristo. Ela é imputada (atribuída) em meu favor. Isso significa que Cristo cumpriu toda a justiça perfeitamente; e então essa justiça foi considerada minha quando eu confiei Nele. Eu fui considerado justo. Deus olhou para a justiça perfeita de Cristo e declarou que eu era justo com a justiça de Cristo.

Portanto, há duas razões pelas quais não é abominável que Deus justifique o ímpio (Romanos 4: 5). Primeiro, a morte de Cristo pagou a dívida da nossa injustiça. Segundo, a obediência de Cristo proporcionou a justiça que precisávamos para sermos justificados no tribunal de Deus. A exigência de Deus para entrar na vida eterna não é apenas que nossa injustiça seja anulada, mas que nossa perfeita justiça seja estabelecida.



O sofrimento e a morte de Cristo são o alicerce de ambas. O sofrimento de Cristo é o sofrimento que nossa injustiça merecia. “Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades” (Isaías 53: 5 ARC). Mas o sofrimento e morte de Cristo foram também o clímax e a conclusão da obediência que se tornou o alicerce de nossa justificação. Ele foi “obediente até à morte e morte de cruz” (Filipenses 2: 8 NVI). A morte de Jesus foi o ponto mais alto de Sua obediência. É a isto que a Bíblia se refere quando diz: "Por meio da obediência de um único homem muitos serão feitos justos" (Romanos 5:19).



Portanto, a morte de Cristo se tornou o alicerce (a base) de nosso perdão e de nossa perfeição. “Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus.” (2 Coríntios 5:21). O que significa que Deus fez com que Cristo se tornasse pecado, sem Ele nunca ter pecado? Isso significa que o nosso pecado foi imputado (atribuído) a Ele, e assim Ele se tornou nosso perdão. E o que significa que nós (que somos pecadores) nos tornamos a justiça de Deus em Cristo? Significa, da mesma forma, que a justiça de Cristo é imputada (atribuída) a nós e, assim, Ele se tornou nossa perfeição.



Que Cristo seja honrado por tudo que Ele conquistou com Seu sofrimento e Sua morte! Tanto a obra de perdoar nosso pecado como a obra de proporcionar nossa justiça. Vamos admirá-Lo, valorizá-Lo e confiar Nele devido esta grande conquista.




 ©2018 Desiring God Foundation. 
www.desiringGod.org (website em inglês com alguns recursos em português).
https://document.desiringgod.org/fifty-reasons-why-jesus-came-to-die-en.pdf?ts=1446647227 Trecho do livro original em inglês Fifty Reasons Why Jesus Came to Die (50 Razões Porque Jesus Veio Morrer), capítulo 10 (Para providenciar o alicerce de nossa justificação) e capítulo 11 (Para completar a obediência que se tornou a nossa justiça).

Traduzido com permissão.