terça-feira, 31 de agosto de 2021

Enxergando as Vítimas Invisíveis de Abuso Doméstico em sua Igreja

Enxergando as Vítimas Invisíveis de Abuso Doméstico em sua Igreja

Darby Strickland

 

 

Evelyn frequentava regularmente os estudos bíblicos para mulheres. Durante o tempo de oração, ela costumava dizer que estava lutando contra a ansiedade. Ela estava preocupada que seus aparentes fracassos estivessem afetando sua filha. Ao longo dos dois anos em que a conheci, vi-a ficar mais angustiada, afastar-se das amizades e, literalmente, murchar diante dos meus olhos.

 

Eu a convidei para almoçar uma semana e gentilmente perguntei por que ela acreditava que estava falhando com a filha. Ela respondeu: "Bill me diz que sou um péssimo modelo". Tive que segurar meu instinto de rebater imediatamente as críticas de seu marido. Era essencial obter mais informações. Então eu perguntei: "Por que Bill diria isso?" Suas histórias de opressão começaram a fluir.

 

Durante uma hora, ela compartilhou as críticas e acusações de Bill a respeito dela. Ela acreditava nas palavras do marido: que ela era preguiçosa, terrivelmente medrosa, estúpida, incompetente, hipócrita e imprestável.

 

Meu coração se partiu, e eu queria rebater o que estava ouvindo, mas para discernir o que estava acontecendo, fiquei em silêncio por um tempo para que ela contasse suas histórias.

 

Dificuldades para identificar o abuso

 

O abuso ocorre a portas fechadas quando ninguém está olhando. A maioria de nós não tem consciência de sua prevalência. Não estamos cientes de que as mulheres estão sofrendo abusos em nossas igrejas. Não fazemos perguntas, nem corremos atrás de coisas que achamos que não estão acontecendo, então não conseguimos identificar o abuso. Mas o abuso está acontecendo - e provavelmente com alguém que você conhece, já que um em cada quatro casamentos é abusivo. Aqui estão alguns motivos pelos quais falhamos em identificar a violência doméstica entre nós.

 

1. A Percepção da Vítima

 

Os opressores geralmente são mestres em disfarçar o que estão fazendo. Muitas vezes até mesmo seus cônjuges, as vítimas, falham em identificar o abuso. Os abusadores mantêm o controle criando um clima de confusão e fazendo com que suas vítimas se sintam responsáveis ​​pelas punições que sofrem (Jeremias 18:18).

 

Evelyn acreditava que estava falhando como esposa; ela não conseguia identificar que o que estava acontecendo com ela era errado. De certa forma, ela sabia que o marido estava perdendo a paciência, mas ele a fazia pensar que era compreensível porque ela era irritante. Evelyn acreditou no que seu marido lhe dizia: ela era o problema. Se Evelyn não conseguia identificar os abusos, como então ela poderia pedir ajuda a Deus e a outras pessoas?

 

2. Nossa percepção das vítimas

 

Os abusos que as vítimas sofrem dia após dia, ano após ano, causam danos especialmente à sua personalidade. Tantos são os efeitos do abuso, que outras pessoas podem confundi-los com pecado ou falta de fé. Os amigos de Evelyn viam uma pessoa deprimida, ansiosa e frágil. Eles a ouviam falar sobre sua culpa como esposa e mãe e presumiram que suas auto avaliações eram corretas (Tito 1:10, 16). Ninguém sabia dos horrores que ela enfrentava em casa.

 

3. Nossa percepção dos abusadores

 

Os opressores costumam ser vistos publicamente como charmosos, até piedosos, enquanto no intimo estão aterrorizando suas famílias. Eles são mestres no engano, mas estão enganando principalmente a si próprios (Provérbios 21: 2; Jeremias 17: 9–10). Para identificar o abuso, não podemos confiar no que vemos ou pensamos saber sobre alguém. O marido de Evelyn era um diácono modelo e ele era um servo na igreja, então ninguém suspeitava que ele estava fazendo tanto mal em seu próprio lar.

 

Entendendo a confusão

 

Quando o abuso não é evidente ou identificado pela vítima, pode ser fácil passar despercebido. Aqui estão quatro maneiras pelas quais podemos ajudar a identificar a opressão na vida das pessoas a quem aconselhamos.

 

1. Saiba o que é abuso.

 

Para identificar algo, temos que saber o que procuramos.

 

O abuso ocorre no casamento quando um dos cônjuges procura controlar e dominar o outro por meio de padrões de comportamento coercitivos, controladores e punitivos.

 

Esse padrão de comportamento controlador é comumente chamado de abuso doméstico ou violência doméstica. Prefiro usar o termo opressão, pois se enquadra em uma categoria que é abordada nas Escrituras e passa a ideia de dominação. Não importa a forma que a opressão assuma (física, emocional, espiritual, sexual ou financeira), o resultado pretendido é o mesmo. Um opressor punirá e ferirá sua vítima para que as coisas aconteçam do jeito que eles querem. O comportamento opressor diz: "Faça o que eu quero, ou senão, sofra as consequências!"

 

2. Faça perguntas para trazer o abuso à luz.

 

Essas perguntas foram elaboradas para identificar padrões de punição e desequilíbrios de poder no casamento. Você pode fazer estas perguntas quando estiver falando com um cônjuge que você suspeita estar sendo vítima de abuso. Ao fazer essas perguntas, certifique-se de que o cônjuge opressor não esteja presente e peça a vitima que dê exemplos detalhados do abuso (Efésios 5: 11–13) - é melhor quando essas perguntas são feitas pessoalmente, já que muitos telefones e e-mails das vítimas são monitorados.

 

·      Você tem liberdade para opinar sobre as decisões em casa?

·      O que acontece quando você diz "não" aos pedidos de seu cônjuge?

·      Você já se sentiu amedrontada perto de seu parceiro?

·      Você já foi ameaçada ou fisicamente ferida neste relacionamento?

·      Você já participou de um ato sexual contra sua vontade?

·      Seu cônjuge a culpa por coisas que dão errado? Como?

·      Seu cônjuge monitora suas interações/relacionamentos com amigos e familiares?

·      Você pode opinar sobre como seus recursos econômicos são usados?

 

3. Descubra como um casal discute.

 

Reúna informações precisas sobre como um casal discute. Os opressores não se envolvem em discussões com a finalidade de alcançar unidade e resolução. Eles veem os argumentos como uma guerra. Para me ajudar a identificar uma situação de potencial opressão, pergunto a vítima: "O que acontece quando vocês discutem?"

 

Procuro saber se o cônjuge demonstra um comportamento controlador, como sarcasmo, distorcer o que é dito ou feito, ficar de mau humor, recusar-se a responder ou ouvir, intimidação física, rir, usar sua reclamação contra você, agir como uma vítima, crítica severa, xingamentos ou bloquear uma porta.

 

Muitas vezes, as mulheres compartilharão com você o conteúdo de uma desavença conjugal. Para fazer a triagem de abusos, você precisa sentir o clima em meio às brigas. Precisamos saber os detalhes e o volume de um argumento. Por exemplo: “Quando ele estava dizendo isso, onde ele estava?” Isso permite que uma vítima diga coisas como "Ele estava me encurralando". Perguntas perspicazes são importantes, por exemplo, “Quando ele fica em silêncio, quanto tempo dura?”, “Ele te chama de quais nomes ou adjetivos?”

 

 4. Você está identificando algum desequilíbrio no relacionamento?

 

Tente identificar pistas não-verbais que o casal exibe na igreja ou em um pequeno grupo de pessoas. Os opressores tendem a controlar as conversas, interromper os outros e não demonstrar empatia ou intimidade com o cônjuge. Em contraste, os cônjuges oprimidos geralmente falam muito pouco e parecem, tanto na postura quanto na fala, estar se submetendo ao cônjuge. (Isso nem sempre é verdade, então não deixe que a presença ou ausência desse comportamento leve você a descartar a possibilidade de opressão em um casamento.) Fique atento a pistas não-verbais que demonstrem desconforto e cautela.

 

Vítimas precisam de ajuda compassiva

 

Também é útil se você for capaz de se colocar no lugar da vítima.

 

Digamos que quando seu cônjuge abusa de você, você sabe que algo está errado, mas geralmente não tem certeza do que seja. Talvez você tenha feito tudo o que pode ser feito e lido todos os livros que pode encontrar sobre casamento. Mas as coisas estão piorando. Nada ajuda.

 

Você vive em constante tensão, com medo da raiva de seu cônjuge e se perguntando o que está fazendo de errado. Você está exausta de tentar de todas as maneiras manter a paz e, mesmo assim, continua se esforçando para em tudo agradar seu cônjuge. Nada funciona.

 

Ninguém ao seu redor vê o que está acontecendo. Nem você tem certeza do que está acontecendo. Você não pode traduzir em palavras o que é viver na sua casa. Parece não haver explicação.

 

Suas perguntas parecem não ter resposta: Por que não consigo consertar essa situação? A situação é realmente tão ruim assim? Estou hipersensível? Estou exagerando? É minha culpa? O que eu fiz para merecer isso? Por que Deus não me ajuda? Nada consegue afastar o sentimento de autocondenação.

 

Você precisa de ajuda para organizar seus pensamentos e experiências, para identificar o pecado pelo nome, e de alguém que seja paciente enquanto você oscila entre o sentimento de que a situação é insuportável e de que você é excessivamente sensível. É uma carga pesada demais para você processar tudo sozinha.

 

Se você é uma amiga ou está na liderança de um ministério, você pode ajudar mulheres nessa situação fazendo o que Jesus faria. Jesus se aproximou dos contritos de coração, sentou-se com eles, chorou com eles e ouviu o que estava em seus corações. E ele fez tudo com ternura. Quando você tentar apoiar os oprimidos, ore para que você possa fazer isso com uma atitude amorosa.

 

 Uma imagem de esperança

 

Após um ano me encontrando com Evelyn, ela foi capaz de ver de forma consistente e clara o controle coercitivo e a crueldade de Bill. Ela perguntou se eu a ajudaria a pedir ajuda e orientação ao pastor. Sua igreja conseguiu estabelecer aconselhamento regular para ela e encontrou pessoas sábias que entendiam de abuso para cuidar dela. Quando foi seguro confrontar Bill sobre seu comportamento, eles começaram o processo. Foi uma bênção para ela e seus filhos ter pastores cuidando dela em uma situação tão difícil.

 

À medida que tentamos ajudar mulheres que foram feridas, é importante lembrar que não somos especialistas em violência doméstica. A dinâmica do abuso em um casamento é difícil, imprevisível e às vezes perigosa. Peça aos líderes de sua igreja orientação e opinião sobre quando envolver ajuda profissional, como líderes leigos, conselheiros bíblicos e outros.

 

Quando passamos a enxergar as vítimas invisíveis, estamos restaurando a esperança. Estamos traduzindo em palavras o sofrimento delas, o que lhes dá razões para orar e a capacidade de pedir a ajuda tão necessária de que precisam. No final das contas, estamos jogando um faixo de luz na escuridão que os abusadores malignos querem que permaneça escondida; luz que pode trazer restauração.


https://www.reviveourhearts.com/articles/seeing-unseen-victims-domestic-abuse-your-church/  (texto original)

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Confrontando Abuso Emocional e Verbal no Lar


Confrontando Abuso Emocional e Verbal no Lar

John Piper

Na sexta-feira, conversamos sobre a diferença entre a ira pecaminosa e a ira santa, e você, Pastor John, falou sobre a raiva como assassina de casamentos. Hoje vamos analisar a raiva e sua força destrutiva dentro de casa. Uma mulher que ouve o podcast, e que nos escreveu anonimamente, nos enviou uma excelente pergunta: “Pastor John, obrigada pelos anos em que você investiu fielmente neste podcast. Durante esses anos, não acredito que você tenha falado sobre abuso emocional e verbal dentro de casa. Em que nível as explosões emocionais de um adulto em um lar exigem a disciplina da igreja ou o envolvimento da liderança da igreja local? Estou me referindo a humilhações verbais contra as crianças, palavrões, e gritarias com raiva para forçar uma opinião no lar, de maneira consistente. Quero manter minha pergunta no nível geral, porque gostaria que você oferecesse ajuda nestas categorias gerais de comportamento.”

É bastante óbvio que essa mulher elaborou cuidadosamente a descrição de um tipo específico de comportamento em sua pergunta. Em outras palavras, ela me pediu para responder sobre categorias gerais de comportamento, mas acredito que ela descreveu as categorias comportamentais de forma incrível (e estou certo de que não foi um processo rápido). Então, em primeiro lugar, deixe-me repetir os termos principais que ela usou e você verá exatamente o que quero dizer. Depois, quero apresentar alguns textos bíblicos que mostram a seriedade do comportamento que ela descreve. Finalmente, quero encerrar com alguns outros aspectos nos quais ela pode ou não estar pensando, mas acho que também são importantes.

Boas perguntas

Eis a frase que descreve o tipo de comportamento que ela está perguntando: "Estou me referindo a humilhações verbais". (Vou fazer um comentário após cada termo principal que ela utilizou, porque ela escolheu suas palavras cuidadosamente. Vou lhe dizer o que acredito que significam, ou o que eu quis dizer ao utilizá-los, e o que eu acredito que ela quis dizer ao expressá-los.)

" Estou me referindo a humilhações verbais", diz ela, que é o oposto, digo eu, do linguajar que edifica e demonstra a graça de Deus. Ela continua, “contra as crianças”. Eu acrescentaria que contra qualquer pessoa seria um problema. Esse tipo de comportamento produz danos duradouros, além de caracterizar o uso cruel de autoridade.

Ela continua, “palavrões”. E eu acrescento: que demonstra a dimensão e a intensidade deste comportamento repulsivo e obsceno. Ela continua, "e gritarias com raiva". Eu acrescento: que mostram o tipo de emoção e intensificam a sensação de medo e ataque. Ela acrescenta: "para forçar". Eu acrescento: que identifica um sentimento de coerção ao invés de um apelo ou persuasão.

Ela continua, "para forçar uma opinião no lar". Eu interpreto: o que sugere que não são apenas convicções compartilhadas que estão sendo defendidas, mas as opiniões que necessariamente não têm peso moral e ainda assim estão sendo forçadas com um nível intenso de raiva. Então ela termina, "de maneira consistente", que ressalta que esse não é uma explosão ocasional, mas um comportamento contínuo onde não há arrependimento.

Veredito de Deus

Essa é uma definição bem elaborada de um padrão de comportamento chamado abuso verbal ou abuso emocional. Eu realmente aprecio esse tipo de cuidado ao elaborar uma pergunta. Ela claramente não quer que esse comportamento seja tratado como um conflito comum, ou ignorado, uma vez que pode acontecer isoladamente até em um bom casamento de vez em quando. Eu não ignoro esse tipo de comportamento, nem o considero comum.

O motivo está listado abaixo. Então, deixe-me citar passagens das Escrituras, nas quais todos os versículos estão relacionados com as características específicas que ela descreveu sobre o comportamento do cônjuge que está falando e agindo dessa maneira.
  • “Mas agora, abandonem todas estas coisas: ira, indignação, maldade, maledicência e linguagem indecente no falar. (Colossenses 3: 8 NVI)
  • “Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda maldade. Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo.” (Efésios 4: 31–32 NVI)
  • “Marido, ame a sua esposa e não seja grosseiro com ela.” (Colossenses 3:19 TLH)
  • “Por fim, tenham todos o mesmo modo de pensar. Sejam cheios de compaixão uns pelos outros.          Amem uns aos outros como irmãos. Mostrem misericórdia e humildade. Não retribuam mal por mal, nem insulto com insulto. Ao contrário, retribuam com uma bênção. Foi para isso que vocês foram chamados, e a bênção lhes será concedida. (1 Pedro 3:8-9 NVT)
  • “Maridos, ame cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela.” (Efésios 5:25 NVI)
  • “Da mesma forma, os maridos devem amar cada um a sua mulher como a seu próprio corpo. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo. Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, antes o alimenta e dele cuida, como também Cristo faz com a igreja, pois somos membros do seu corpo.” (Efésios 5:28-30)
  • “Não saia da boca de vocês nenhuma palavra suja, mas unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem.” (Efésios 4:29 NAA)
  • “Por isso, como seu irmão em Cristo, eu sei que tenho o direito de exigir o que você deve fazer. Mas o amor que tenho por você me obriga a lhe fazer apenas um pedido. E faço isso, embora eu seja Paulo, o representante de Cristo Jesus e agora também prisioneiro por causa dele.” (Filemon 1:8-9 NTLH)

Um problema sério

Poderia, é claro, citar outros versículos. Os versículos acima demonstram que cada frase da sua pergunta é tratada como uma questão espiritual e moral séria, seja do marido ou da esposa. Portanto, minha resposta é a seguinte: o comportamento (como ela o definiu e como tentei interpretá-lo e esclarecê-lo) é suficiente para garantir que um cônjuge recorra aos presbíteros (liderança) da igreja em busca de ajuda. É um comportamento para o qual pode ser aplicada a disciplina (dependendo da reação do cônjuge) e possivelmente a exclusão. Essa é uma afirmação bastante séria sobre esse comportamento.

Gostaria de acrescentar mais uma coisa. Eu acredito que pode ser útil salientar (e tenho certeza que ela sabe disso, mas nem todos os nossos ouvintes podem estar pensando nessas categorias, e é muito radical o que eu vou dizer). Em todo casamento cristão deve haver uma rede de relacionamentos na igreja, na comunidade e entre amigos que possam exercer influências de correção, repreensão e cura.

Entre os cristãos, isso pode acontecer. Deve haver uma rede de relacionamentos. E eu sei que não há muitas comunidades saudáveis ​​e/ou tantas igrejas saudáveis ​​quanto gostaríamos, eu entendo isso. Estou falando sobre o que deveria acontecer e o que um jovem casal deveria fazer. Deve haver uma rede de relacionamentos que exerça influências de correção, repreensão e cura antes que haja a necessidade de envolvimento oficial dos presbíteros (liderança da igreja).

O Novo Testamento contém mandamentos para as pessoas comuns exortarem-se, repreenderem-se, corrigirem-se e orarem regularmente um pelo outro. É incrível o número de casamentos que estão sofrendo dificuldades e não há ninguém capaz de fazer essas coisas. Isso é trágico. Eu aconselharia isso a todos os jovens casais, e sei que é tarde demais para muitos casais que estão em um estágio avançado de disfunção no relacionamento, e que precisam de um milagre. Mas eu diria a todo jovem casal desde o início: envolva-se em uma rede de relacionamentos, em um pequeno grupo, em um grupo de amigos, que são próximos o suficiente para saberem quando problemas estão acontecendo em seu casamento.

Encontre pessoas em quem confiar

Eu diria que o marido e a esposa devem obter permissão um do outro para terem uma ou duas pessoas com quem compartilhem absolutamente tudo o que acontece no casamento. Não é necessário que eles compartilhem sempre todos os detalhes, mas que o nível de confiança seja alto o suficiente para permitir que, quando julgarem necessário, tenham a liberdade de tomar a decisão de compartilharem.

Por exemplo, anos atrás, minha esposa e eu estávamos tendo problemas suficientes para adotarmos essa estratégia. Permiti que minha esposa Noel dissesse a uma ou duas outras mulheres absolutamente tudo sobre o nosso casamento, sem trair a minha confiança. Eu disse: “Você não estará traindo minha confiança. Dou-lhe permissão para dizer absolutamente qualquer coisa a ela e confio que você não dirá de maneira destrutiva.”

Ela fez o mesmo por mim. Noel me deu permissão para dizer a um ou dois outros homens absolutamente tudo sobre o que está acontecendo em nossa casa, e ela confia em mim para não dizer coisas que seriam destrutivas ou prejudiciais.

Percebo que isso requer um nível enorme de confiança entre os cônjuges e com os amigos, e eu diria, em última análise, em Deus. É preciso muita coragem para os amigos confrontarem o comportamento do marido ou da esposa. Mas esse é o tipo de rede de relacionamentos de que estou falando. Então, se todo esse envolvimento de outros amigos não trouxer o arrependimento em relação a este tipo de comportamento abusivo, o envolvimento dos presbíteros (liderança da igreja) não estará sendo precipitado. Tudo será estabelecido pelas palavras de duas ou três testemunhas.






©2019 Desiring God Foundation.
 
www.desiringGod.org (website em inglês com alguns recursos em português).

 
Traduzido com permissão.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Palavras Esclarecedoras Sobre o Abuso de Mulheres


Palavras Esclarecedoras Sobre o Abuso de Mulheres 

John Piper


Vários anos atrás, me perguntaram em uma sessão de perguntas e respostas on-line: "Como deve ser a submissão de uma esposa ao marido se ele é um agressor?"
Uma das críticas à minha resposta foi que não mencionei o recurso que uma esposa tem para aplicar a lei como proteção. Então, deixe-me esclarecer com sete observações bíblicas.

1. Precisamos de sabedoria quando os relacionamentos de submissão se interpõem.
Todo cristão é chamado a se submeter a várias autoridades e uns aos outros: filhos aos pais (Efésios 6:1), cidadãos ao governo (Romanos 13:1), esposas aos maridos (Efésios 5:22), empregados a empregadores (2 Tessalonicenses 3:10), membros da igreja aos presbíteros (Hebreus 13:17), todos os cristãos uns aos outros (Efésios 5:21), todos os crentes à Cristo (Lucas 6:46).

Isso coloca a submissão de esposas e maridos no contexto mais amplo de submissão a Jesus, às autoridades civis, de uns aos outros e à igreja. Isso significa que o fato de qualquer atitude de submissão ser correta ou incorreta é discernido levando-se em consideração todos os relacionamentos relevantes. Somos todos responsáveis ​​primeiramente em submetermo-nos a Jesus e, depois Dele na linha hierárquica, a outras pessoas e lideranças. Discernir o caminho do amor e da obediência quando dois ou mais desses relacionamentos de submissão se interpõem é um convite a exercermos sabedoria espiritual com humildade e baseados na Bíblia.

2. Um marido abusivo desobedece a Cristo.

O marido recebe a seguinte ordem: “Marido, ame a sua esposa e não seja grosseiro com ela” (Colossenses 3:19 NTLH). Eles são instruídos a “amar cada um a sua mulher como a seu próprio corpo. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo. Além do mais, ninguém jamais odiou seu próprio corpo, antes o alimenta e dele cuida” (Efésios 5: 28–29 NVI). O objetivo de um marido ser imitador de Cristo ao amar sua esposa é amar “cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela" (Efésios 5:25 NVI).

Maridos cristãos não são Jesus Cristo. Eles são pecadores finitos, falíveis e perdoados. Eles não substituem Cristo. Suas esposas se relacionam diretamente com Cristo (Hebreus 4:16; 11: 6), não apenas através de seus maridos. Os maridos não têm a sabedoria, nem o poder, nem os direitos de Cristo. A semelhança deles com Cristo na liderança de suas esposas é limitada e centrada nestas palavras: “Ele entregou-se por ela. . . nutrindo e cuidando . . . não sendo grosseiro com elas”.

Portanto, um marido abusivo está violando a lei de Deus. Ele está desobedecendo a Cristo. O comportamento dele não deve ser tolerado, mas disciplinado pela igreja. A esposa não é insubordinada ao pedir ajuda à igreja. Uma mulher cristã não deve sentir que a única ajuda disponível para ela é a polícia. Isso seria um fracasso bíblico de sua igreja.

3. As mulheres podem ser fiéis ao recorrerem às autoridades civis.
O recurso às autoridades civis pode ser a coisa certa para uma esposa abusada. Ameaçar ou infligir intencionalmente danos corporais a um cônjuge (ou outros membros da família) é uma contravenção penal em Minnesota, punível com multas, prisão por tempo limitado ou ambos. Isto significa que um marido que ameaça e fere intencionalmente sua esposa não está apenas violando a lei moral de Deus, mas também a lei civil do estado. Ao esperar que sua esposa aceite silenciosamente suas ameaças e ferimentos, ele está pedindo que ela participe da violação da lei moral de Deus e da lei civil do estado.

O próprio Deus colocou agentes da lei em vigor para a proteção dos inocentes. “Se você praticar o mal, tenha medo, pois ela não porta a espada em sem motivo. É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal” (Romanos 13:4 NVI). A submissão de uma esposa à autoridade da lei civil, por amor a Cristo, pode, portanto, anular sua submissão à exigência feita por um marido de que ela sofra os ferimentos infligidos por ele. Esse recurso legítimo à proteção civil pode ser feito em um espírito que não contradiga o espírito de amor e submissão ao marido, pois a esposa pode recorrer a essa opção com um coração humilde e sentindo um grande peso, desejando fortemente o arrependimento e a restauração de seu marido e da capacidade de seu marido ser um líder construtivo.
4. A igreja é chamada a exercer tipos diferentes de misericórdia.

A igreja não deve proteger um homem ou mulher abusivos que seriam punidos pelas autoridades civis caso estas soubessem os detalhes que a igreja sabe. Somos chamados à misericórdia. "Sejam misericordiosos, assim como o Pai de vocês é misericordioso" (Lucas 6:36 NVI). Mas há momentos em que demonstrar misericórdia a uma pessoa exige justiça para outra pessoa. Este é frequentemente o caso de abuso criminal. Além disso, existem maneiras diferentes de demonstrar misericórdia para uma pessoa culpada que deve pagar multas ou ir para a cadeia. Raramente estamos numa posição em que a escolha é simplesmente demonstrarmos misericórdia ou demonstrarmos total falta de misericórdia.

5. Nenhum cristão deve enfrentar abuso sozinho.
Para muitas mulheres, o pensamento de um marido ser preso, perder o emprego e ser publicamente envergonhado é tão indesejável que muitas vezes elas toleram muitos pecados antes de se desesperarem o suficiente para recorrerem às autoridades. O que quero enfatizar é que, muito antes de chegarem a um ponto de desespero, ou dano, as mulheres da igreja devem saber que existem homens e mulheres espirituais na igreja que elas podem procurar para ajudá-las.

Lamentavelmente e por precaução, não posso prometer que toda igreja tenha homens e mulheres espirituais, com dons e compassivos que estejam disponíveis para ajudar. Mas muitas igrejas têm. A intervenção desses irmãos e irmãs com maturidade pode levar o marido ao arrependimento e reconciliação. Ou eles podem determinar que as leis foram violadas e as autoridades civis devem ou precisam ser notificadas. Em ambos os casos, nenhuma mulher cristã (ou homem) deve ter que enfrentar abuso sozinha.

6. Existe uma base bíblica para o escape.

Quando Jesus ordena a seus discípulos que “Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra” (Mateus 5:39 NVI), Ele está descrevendo uma maneira de amar: o testemunho de que Jesus é tão suficiente para mim que eu não preciso de vingança. Foi assim que Cristo nos amou ate o final: “Quando ele foi insultado, ele não insultou em troca; quando sofreu, não ameaçou, mas continuou a confiar-se àquele que julga com justiça ”(1 Pedro 2:23).

Mas esta não é o única opção de amor disponível àqueles que são perseguidos. A Bíblia justifica o escape. John Bunyan pensou profundamente em duas vertentes da Bíblia sobre como lidar com a perseguição:
“Aquele que escapa está justificado em escapar. Aquele que fica está justificado em ficar. O mesmo homem pode escapar e ficar, de acordo com o chamado e a obra de Deus em seu coração. Moisés escapou (Êxodo 2:15) e Moisés ficou (Hebreus 11:27). Davi escapou (1 Samuel 19:12) e Davi ficou (24: 8). Jeremias escapou (Jeremias 37: 11–12) e Jeremias ficou (38:17). Cristo se retirou (Lucas 9:10) e Cristo ficou (João 18: 1–8). Paulo escapou (2 Coríntios 11:33) e Paulo ficou (Atos 20: 22–23)...

Não escape porque você está dominado pelo medo, mas sim porque escapar é uma ordenança de Deus, que providencia para alguns uma porta aberta para a fuga, porta que é aberta pela providência de Deus, e escape que é baseado na Palavra de Deus” (Mateus 10:23), Obras de John Bunyan, volume 2, página 726 - tradução livre).

7. O chamado bíblico é para provisão e proteção.
Quando a Bíblia diz que “A religião pura e sem macula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações...” (Tiago 1:27 ARA), isso significa que os cristãos com recursos e poder tomem iniciativas em favor dos mais fracos. O "visitar" neste texto não é apenas uma visitinha. É para ajudar - para providenciar o necessário e para proteção. A questão é a seguinte: quando Jesus ordena a seus discípulos oferecer a outra face (Mateus 5:39), ele não quer dizer que, se eu puder fazer algo a respeito, devo permitir que você seja estapeado novamente. É a união no corpo de Cristo que quebra o ciclo da injustiça.

Meu apelo final é para todos os homens cristãos, e em particular aos líderes das igrejas: Proclamem a bela visão do complementarismo no casamento, cujo chamado para os homens é de assumir a responsabilidade não apenas por sua própria coragem e mansidão, mas também pela mansidão dos outros homens. Inclua na cultura masculina da igreja que os homens não tolerem o abuso de nenhuma de suas mulheres.


©2019 Desiring God Foundation.
 
www.desiringGod.org (website em inglês com alguns recursos em português).

 
Traduzido com permissão.