sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Você Ora Como Um Incrédulo?


Jonh Piper 


Algo está errado quando cristãos oram da mesma maneira que oram os incrédulos. É claro que os incrédulos oram. Milhões de incrédulos oram. Inúmeros cristãos nominais de todas as nações do mundo oram quase que diariamente.

Recentemente, eu li o seguinte sobre a Látvia no livro Operation World: “O cristianismo é caracterizado pelo nominalismo... Apesar de 60% professarem a fé cristã, apenas uma pequena minoria pratica sua fé.” Com porcentagens que variam, o mesmo pode ser dito com veracidade sobre todos os países por onde o cristianismo se espalhou. O trigo e o joio crescem juntos. E ambos oram.

Isto é realidade em nossos dias, tanto quanto nos dias de Jesus. Os fariseus amavam a Deus menos e oravam mais. “Eles devoram as casas das viúvas, e, para disfarçar, fazem longas orações” (Marcos 12:40 NVI). “Eles gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros” (Mateus 6:5 NVI). Os pagãos, bem como os fariseus, também oram: “E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos” (Mateus 6:7 NVI).

É possível que cristãos nominais aprendam o palavreado da oração genuína: uma oração que exalte a Cristo, que seja centralizada em Deus, que confesse o pecado, que dependa do Espírito, que confie nas promessas e que busque a santidade. Mas eu tenho constatado que é raro que as pessoas que tem pouco amor por Cristo possam orar como se elas amassem Jesus e o Reino de Deus.

Algo Que É Melhor do Que Bom

Então, como oram estas pessoas? Geralmente, os cristãos nominais não pedem a Deus coisas ruins. Eles pedem a Deus coisas boas sem, contudo, pedir a Ele que faça aquilo que é o melhor. Eles oram como se Deus fosse um doador, mas não como se Ele fosse a dádiva. Eles oram por proteção, abrigo, alimentação, vestuário, saúde, paz, prosperidade, justiça social, conforto e felicidade.

Todas estas coisas boas são coisas que o mundo deseja. Você não precisa ser nascido de novo para desejá-las ou amá-las. E você não precisa ser um cristão para orar por estas coisas em relação a si mesmo e em relação aos outros. Todas as religiões oram por essas coisas, de uma maneira ou de outra. Até mesmo as pessoas que não tem religião oram por elas na hora do desespero.

Então, qual é a diferença? Como deveriam orar os cristãos? Os cristãos não oram por essas coisas boas?

O Que Caracteriza a Oração Cristã

A diferença é que os cristãos são pessoas que possuem uma nova natureza através do novo nascimento. “O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito” (João 3:6 NVI).



  • Esta nova natureza é formada através da presença do Espírito Santo cuja missão é glorificar a Cristo (João 16:14).

  • O Espírito forma nosso ser interior através de uma nova dinâmica de fé nas promessas de Deus. “A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus" (Gálatas 2:20 NVI).

  • A essência desta fé é uma nova experiência que valoriza Jesus acima de todas as outras coisas. “Considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor” (Filipenses 3:8 NVI).

  • Este novo coração do cristão deseja que Deus seja visto como glorioso em cada situação, cada ato e cada sentimento. “Quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10:31 NVI).

  • O coração cristão tem um desejo ardente de que “Cristo seja engrandecido” em todas as coisas: em cada resposta de cada oração (Filipenses 1:20).
Os cristãos verdadeiros não oram para obter menos do que oram os cristãos nominais. Eles oram por mais, infinitamente mais. O principal é sempre para que Cristo seja valorizado de forma suprema, e que Ele seja engrandecido de forma suprema em resposta a cada oração.

Orando Por Proteção

Por exemplo, cada oração por proteção (no caso de mineradores que estão soterrados em uma mina, ou de soldados que estão partindo para a guerra, ou de cristãos que estão partindo para o campo missionário, ou de filhos e filhas que estão partindo para a faculdade, ou de policiais que colocam a vida em risco, ou de reféns ameaçados de morte, ou de crianças brincando em locais onde haja tiroteio), toda oração cristã por proteção deveria ser uma oração para obter o melhor tipo de proteção, e não o menor.

A melhor proteção é a proteção em relação a Satanás, à incredulidade, ao pecado e à destruição eterna. O cristão vê o mundo como ele realmente é. Os perigos temporais deste mundo são um reflexo dos perigos eternos. Os perigos eternos são muito mais destrutivos. Orar pela proteção temporal sem importar-se em orar por uma proteção de alcance superior pode parecer compaixão para o mundo, bem como para os cristãos nominais, mas não para aqueles que vivem na luz.

Ore Por Mais, e Não Por Menos

Assim deveria acontecer com cada coisa boa de que as pessoas necessitam. Os cristãos não oram por menos, mas oram por mais, infinitamente mais.


  • Senhor, conceda-lhes abrigo, tanto para o corpo quanto para a alma, um abrigo que os proteja do calor, do frio e da chuva, bem como um abrigo superior que os proteja do ardor da sua ira, da frieza do ódio e da enxurrada destrutiva que sobrevem sobre toda incredulidade. Mostra-lhes a glória de tua graça protetora.

  • Senhor, conceda-lhes o alimento, e os salva através do entendimento de que existe uma “comida que se estraga” e uma “comida que permanece para a vida eterna” (João 6:27 NVI). Querido Deus, alimente-os com ambas. Permita-os provar e ver que o Senhor satisfaz plenamente.

  • Senhor, conceda-lhes as vestimentas de que eles necessitam. Não permita que eles se vistam com farrapos, mas que sejam vestidos com dignidade. Senhor, mostra-lhes que existem “vestes da salvação” e o “manto da justiça” (Isaías 61:10 NVI). Mostra-lhes que estas vestimentas são gratuitas, compradas pelo alto preço do sangue de Jesus. Senhor, não permita que eles se vistam com as roupas mais refinadas deste mundo, mas que se encontrem despidos no dia do julgamento final. Conceda-lhes amor pelo brilho da tua presença plena.

  • Senhor, conceda-lhes saúde. Permita-lhes recuperar a saúde. Livre-os da doença. Conceda-lhes cura. E não permita que eles sejam como os nove leprosos que receberam a cura de Jesus e nunca voltaram para agradecê-LO e amá-LO (Lucas 17:17). Que a cura deles seja completa e eterna, para a glória do Deus que cura. Abençoe-lhes com a saúde física, e muito mais com a saúde de suas almas (3 João 2).

  • Grandioso Deus da paz, produza paz entre as nações em guerra: tribos, etnias, famílias, filhos e gangues. Elimine a amargura, o ódio, a vingança e a hostilidade. Revele o Príncipe da Paz. Revele Aquele que derramou Seu sangue para que Nele os mais implacáveis inimigos possam ser reconciliados com Deus e uns com os outros (Efésios 2:15-16). Abra-lhes o coração para Cristo e transforme-os em pacificadores.

  • Senhor, devido às riquezas infinitas que a Ti pertencem como Criador e Redentor, conceda prosperidade àqueles que enfrentam necessidades. Conceda-lhes o que é necessário, se não, tendo demais, eles te negariam e diriam: ‘Quem é o Senhor?’ Ou se ficassem pobres, poderiam vir a roubar, desonrando assim o nome de Deus (Provérbios 30:8-9). Senhor, permita que cada alma venha saber que Tu és quem tem o poder de fazer prosperar (Deuteronômio 8:18). Permita-lhes enxergar esta realidade e assim dar-Te glórias.

  • Senhor, Tu conheces as dificuldades do oprimido. “Que haja tanta justiça como as águas de uma enchente e que a honestidade seja como um rio que não para de correr” (Amós 5:24 NTLH). Que a liberdade seja proclamada aos cativos, e libertação àqueles que estão aprisionados injustamente. Faça cair por terra os poderes perversos dos tiranos. Imobilize os braços dos governantes injustos que falham no chamado dado por Deus de “punir os que praticam o mal e honrar os que praticam o bem” (1 Pedro 2:14). E conceda, tanto aos fortes quanto aos fracos, a capacidade de enxergar que a justiça vem do Senhor, e que no final, toda injustiça será acertada. Faça com que os corações dos opressores e dos oprimidos busquem a misericórdia do Juiz de todo o universo enquanto ainda há tempo (Atos 17:31).

  • Senhor, Tu és “Pai das misericórdias e Deus de toda consolação” (2 Coríntios 1:3 NVI). Nós oramos para que o Senhor console e seja misericordioso com aqueles que experimentaram grandes perdas, cujos bens mais estimados de suas vidas pereceram. Senhor, não os abandone no desespero do luto. Mostre-lhes a grandeza daquilo que Cristo veio realizar por aqueles cujo sofrimento é abundante (1 Tessalonicenses 4:13-18) . Permita que o sofrimento deles seja a ferida que lhes abra o coração para a cura eterna que Tu ofereces em Cristo. Mostra-lhes o valor inigualável de Jesus que supera tudo o que o mundo pode dar.

  • Finalmente, Pai, conceda-lhes felicidade. Nós não desejamos ou oramos para que ninguém experimente a miséria, o sofrimento e a tristeza eterna. Se a dor da cirurgia é necessária para que haja uma cura eterna, nós confiamos no Senhor para utilizar este aguilhão. O desejo de nosso coração é a alegria eterna de toda alma vivente. Nós não pedimos o que Moisés repudiou como “prazeres transitórios do pecado” (Hebreus 11:25 ARA), ou “paixões carnais que estão sempre em guerra contra a alma.” (1 Pedro 2:11NTLH), ou pelo conforto das riquezas que transformam os portões do céu no fundo de uma agulha (Mateus 19:24). Mas nós pedimos, mesmo para os nossos inimigos, a alegria plena da tua presença e eterno prazer à Tua direita (Salmo 16:11). Jesus morreu para alcançar essas coisas. Que eles possam enxergar e receber.
Não se Deixe Intimidar Pelos Críticos Nominais

Cristãos nominais geralmente não oram desta maneira. Na realidade, eles se afastam daqueles que oram desta maneira. Eles se sentem incomodados na presença de tais orações. O coração deles não possui uma real afeição pela beleza destas orações. Estas orações não lhes são naturais.

Portanto, os cristãos nominais tentarão evitar a exposição de sua miséria espiritual torcendo o significado destas orações, dizendo coisas como as seguintes: "Você só se preocupa com teologia." Ou, "Estômago vazio não quer saber de religião." Ou, “As pessoas precisam de amor e não de religião.” Ou, “Você não consegue orar pelas necessidades dos outros sem adicionar umas frases religiosas." E assim por diante.

Evidentemente, nenhum destes ataques é certeiro. Exceto aos olhos de outros cristãos nominais, que possuem milhões de contas no Twitter.
Mas os cristãos verdadeiros se recusam parar de amar só porque os cristãos nominais zombam o fato de nos importarmos com a eternidade. Os cristãos verdadeiros perseveram com Jesus na convicção de que devemos nos importar com todo o tipo de sofrimento, especialmente o sofrimento eterno. Os cristãos apegam-se a convicção de que 85 anos de vida nesta terra usufruindo de proteção, abrigo, alimentação, vestuário, saúde, paz, prosperidade, justiça social, conforto e alegria, mas seguidos por uma eternidade miserável, não é uma boa vida. Nós sabemos que o amor verdadeiro não se satisfaz com tal tragédia de vida. Ele ora por algo mais.

Então, eu imploro para que todos os cristãos orem como cristãos verdadeiros. Eu imploro para que você nunca desista em vista das críticas de que é mais amoroso pedir a Deus para conceder Suas bênçãos do que conceder a Sua presença. Eu imploro para que toda oração exalte a Cristo, seja centralizada em Deus, confesse pecados, seja dependente do Espírito, confie nas promessas e busque a santidade. Em outras palavras, eu imploro para que nós realmente amemos as pessoas quando orarmos por elas.



By John Piper. ©2016 Desiring God Foundation. 
www.desiringGod.org (website em inglês com alguns recursos em português).
http://www.desiringgod.org/articles/do-you-pray-like-a-nonbeliever (texto original e áudio em inglês).

Traduzido com permissão por Rachel Machado Soares Beere.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Filhos de Um Deus Que Canta

John Piper



"Depois de terem cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras." (Marcos 14:26 NVI)

Você é capaz de ouvir Jesus cantando?

Ele tinha a voz de um tenor, ou de um baixo? Será que Ele tinha um sotaque caipira? Ou a Sua voz era clara como cristal?

Ele cantava para o Seu Pai de olhos fechados? Ou olhava nos olhos dos Seus discípulos e sorria por causa da profunda comunhão?   

Era geralmente Ele quem iniciava a canção?

Ah! Eu mal posso esperar para ouvir Jesus cantar! Eu acho que os planetas seriam lançados fora de órbita se Ele revelasse a Sua voz original no nosso universo. Mas nós temos um reino que não pode ser abalado; então, Senhor, venha e cante.

Não poderia ser de outra maneira, pois é natural que o cristianismo seja uma fé que canta. O fundador cantou. Ele aprendeu a cantar com Seu Pai. Certamente que Eles haviam cantado juntos por toda a eternidade.

A Bíblia diz que o objetivo da música é levantar a voz com alegria (1 Crônicas 15:16 ARC). Ninguém no universo é mais cheio de alegria do que Deus. Ele é infinitamente alegre. Ele tem se alegrado eternamente na contemplação de Sua própria perfeição refletida perfeitamente na divindade de Seu Filho.

A alegria de Deus é inimaginavelmente poderosa. Ele é Deus. Quando Ele fala, as galáxias se formam. E quando Ele canta de alegria, mais energia é liberada do que existe em toda a matéria e movimento do universo.

Se Ele escolheu a música como forma de demonstrarmos o deleite de nosso coração em relação a Ele, não será porque Ele também conhece a alegria de demonstrar o deleite do Seu próprio coração em relação a Si mesmo através da música? Nós somos um povo que canta porque somos filhos de Deus que canta.

By John Piper. ©2016 Desiring God Foundation.
www.desiringGod.org (website em inglês com alguns recursos em português).
http://www.desiringgod.org/articles/children-of-a-singing-god (texto original em inglês).

Traduzido com permissão por Neyzimar Ferreira Lavalley. 

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Perseverando Quando Obedecer É Doloroso



John Piper



"Tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz..." (Hebreus 12:2 NIV)

A fé às vezes realiza coisas extremamente difíceis.

Em seu livro O Milagre no Rio Kwai,  Ernest Gordon conta a história verídica de um grupo de prisioneiros de guerra trabalhando na rodovia de Burma durante a Segunda Guerra Mundial.



Ao final de cada dia, as ferramentas eram coletadas dos trabalhadores. Em uma ocasião, um guarda japonês gritou que uma pá estava faltando e exigiu saber quem era o homem que a havia tirado. Ele começou a gritar com uma raiva desvairada, se exacerbando ao ponto de uma fúria paranoica e ordenando que o culpado desse um passo para frente. Ninguém se moveu. "Todos morrerão! Todos morrerão!" - ele gritava, armando e apontando o seu rifle para os prisioneiros. Naquele momento, um prisioneiro deu um passo para frente e o guarda o espancou até a morte com o cabo do rifle enquanto o homem permanecia em silêncio, em posição de sentido. Quando eles retornaram ao campo, as ferramentas foram contadas novamente, e nenhuma pá estava faltando.

O que pode estimular o desejo de morrer pelos outros, quando você é inocente? Jesus foi conduzido e sustentado em seu amor por nós "pela alegria que lhe fora proposta".

A graça significa que aqueles que a recebem não são merecedores. Então, eu não diria que Jesus depositou a sua esperança na graça. Eu simplesmente diria que Ele contou com a benção e a alegria futura, e que isto O conduziu e O sustentou em amor através do Seu sofrimento.

Sempre que nós seguimos o exemplo de Jesus, o que deveríamos fazer, a benção e alegria que nos é reservada é a graça, a graça futura. Como homem, dando-nos o exemplo de como carregar a nossa cruz e segui-LO no caminho de amor do Calvário, Jesus entregou-Se a Si mesmo ao Pai com confiança (1 Pedro 2:23) e depositou a Sua esperança na ressurreição e em todas as alegrias da reunião com o Seu Pai e da redenção do Seu  povo.

By John Piper. ©2016 Desiring God Foundation.
www.desiringGod.org (website em inglês com alguns recursos em português).
http://www.desiringgod.org/articles/enduring-when-obeying-hurts (texto original em inglês).



Traduzido com permissão por Neyzimar Ferreira Lavalley.