quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Palavras Esclarecedoras Sobre o Abuso de Mulheres


Palavras Esclarecedoras Sobre o Abuso de Mulheres 

John Piper


Vários anos atrás, me perguntaram em uma sessão de perguntas e respostas on-line: "Como deve ser a submissão de uma esposa ao marido se ele é um agressor?"
Uma das críticas à minha resposta foi que não mencionei o recurso que uma esposa tem para aplicar a lei como proteção. Então, deixe-me esclarecer com sete observações bíblicas.

1. Precisamos de sabedoria quando os relacionamentos de submissão se interpõem.
Todo cristão é chamado a se submeter a várias autoridades e uns aos outros: filhos aos pais (Efésios 6:1), cidadãos ao governo (Romanos 13:1), esposas aos maridos (Efésios 5:22), empregados a empregadores (2 Tessalonicenses 3:10), membros da igreja aos presbíteros (Hebreus 13:17), todos os cristãos uns aos outros (Efésios 5:21), todos os crentes à Cristo (Lucas 6:46).

Isso coloca a submissão de esposas e maridos no contexto mais amplo de submissão a Jesus, às autoridades civis, de uns aos outros e à igreja. Isso significa que o fato de qualquer atitude de submissão ser correta ou incorreta é discernido levando-se em consideração todos os relacionamentos relevantes. Somos todos responsáveis ​​primeiramente em submetermo-nos a Jesus e, depois Dele na linha hierárquica, a outras pessoas e lideranças. Discernir o caminho do amor e da obediência quando dois ou mais desses relacionamentos de submissão se interpõem é um convite a exercermos sabedoria espiritual com humildade e baseados na Bíblia.

2. Um marido abusivo desobedece a Cristo.

O marido recebe a seguinte ordem: “Marido, ame a sua esposa e não seja grosseiro com ela” (Colossenses 3:19 NTLH). Eles são instruídos a “amar cada um a sua mulher como a seu próprio corpo. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo. Além do mais, ninguém jamais odiou seu próprio corpo, antes o alimenta e dele cuida” (Efésios 5: 28–29 NVI). O objetivo de um marido ser imitador de Cristo ao amar sua esposa é amar “cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela" (Efésios 5:25 NVI).

Maridos cristãos não são Jesus Cristo. Eles são pecadores finitos, falíveis e perdoados. Eles não substituem Cristo. Suas esposas se relacionam diretamente com Cristo (Hebreus 4:16; 11: 6), não apenas através de seus maridos. Os maridos não têm a sabedoria, nem o poder, nem os direitos de Cristo. A semelhança deles com Cristo na liderança de suas esposas é limitada e centrada nestas palavras: “Ele entregou-se por ela. . . nutrindo e cuidando . . . não sendo grosseiro com elas”.

Portanto, um marido abusivo está violando a lei de Deus. Ele está desobedecendo a Cristo. O comportamento dele não deve ser tolerado, mas disciplinado pela igreja. A esposa não é insubordinada ao pedir ajuda à igreja. Uma mulher cristã não deve sentir que a única ajuda disponível para ela é a polícia. Isso seria um fracasso bíblico de sua igreja.

3. As mulheres podem ser fiéis ao recorrerem às autoridades civis.
O recurso às autoridades civis pode ser a coisa certa para uma esposa abusada. Ameaçar ou infligir intencionalmente danos corporais a um cônjuge (ou outros membros da família) é uma contravenção penal em Minnesota, punível com multas, prisão por tempo limitado ou ambos. Isto significa que um marido que ameaça e fere intencionalmente sua esposa não está apenas violando a lei moral de Deus, mas também a lei civil do estado. Ao esperar que sua esposa aceite silenciosamente suas ameaças e ferimentos, ele está pedindo que ela participe da violação da lei moral de Deus e da lei civil do estado.

O próprio Deus colocou agentes da lei em vigor para a proteção dos inocentes. “Se você praticar o mal, tenha medo, pois ela não porta a espada em sem motivo. É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal” (Romanos 13:4 NVI). A submissão de uma esposa à autoridade da lei civil, por amor a Cristo, pode, portanto, anular sua submissão à exigência feita por um marido de que ela sofra os ferimentos infligidos por ele. Esse recurso legítimo à proteção civil pode ser feito em um espírito que não contradiga o espírito de amor e submissão ao marido, pois a esposa pode recorrer a essa opção com um coração humilde e sentindo um grande peso, desejando fortemente o arrependimento e a restauração de seu marido e da capacidade de seu marido ser um líder construtivo.
4. A igreja é chamada a exercer tipos diferentes de misericórdia.

A igreja não deve proteger um homem ou mulher abusivos que seriam punidos pelas autoridades civis caso estas soubessem os detalhes que a igreja sabe. Somos chamados à misericórdia. "Sejam misericordiosos, assim como o Pai de vocês é misericordioso" (Lucas 6:36 NVI). Mas há momentos em que demonstrar misericórdia a uma pessoa exige justiça para outra pessoa. Este é frequentemente o caso de abuso criminal. Além disso, existem maneiras diferentes de demonstrar misericórdia para uma pessoa culpada que deve pagar multas ou ir para a cadeia. Raramente estamos numa posição em que a escolha é simplesmente demonstrarmos misericórdia ou demonstrarmos total falta de misericórdia.

5. Nenhum cristão deve enfrentar abuso sozinho.
Para muitas mulheres, o pensamento de um marido ser preso, perder o emprego e ser publicamente envergonhado é tão indesejável que muitas vezes elas toleram muitos pecados antes de se desesperarem o suficiente para recorrerem às autoridades. O que quero enfatizar é que, muito antes de chegarem a um ponto de desespero, ou dano, as mulheres da igreja devem saber que existem homens e mulheres espirituais na igreja que elas podem procurar para ajudá-las.

Lamentavelmente e por precaução, não posso prometer que toda igreja tenha homens e mulheres espirituais, com dons e compassivos que estejam disponíveis para ajudar. Mas muitas igrejas têm. A intervenção desses irmãos e irmãs com maturidade pode levar o marido ao arrependimento e reconciliação. Ou eles podem determinar que as leis foram violadas e as autoridades civis devem ou precisam ser notificadas. Em ambos os casos, nenhuma mulher cristã (ou homem) deve ter que enfrentar abuso sozinha.

6. Existe uma base bíblica para o escape.

Quando Jesus ordena a seus discípulos que “Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra” (Mateus 5:39 NVI), Ele está descrevendo uma maneira de amar: o testemunho de que Jesus é tão suficiente para mim que eu não preciso de vingança. Foi assim que Cristo nos amou ate o final: “Quando ele foi insultado, ele não insultou em troca; quando sofreu, não ameaçou, mas continuou a confiar-se àquele que julga com justiça ”(1 Pedro 2:23).

Mas esta não é o única opção de amor disponível àqueles que são perseguidos. A Bíblia justifica o escape. John Bunyan pensou profundamente em duas vertentes da Bíblia sobre como lidar com a perseguição:
“Aquele que escapa está justificado em escapar. Aquele que fica está justificado em ficar. O mesmo homem pode escapar e ficar, de acordo com o chamado e a obra de Deus em seu coração. Moisés escapou (Êxodo 2:15) e Moisés ficou (Hebreus 11:27). Davi escapou (1 Samuel 19:12) e Davi ficou (24: 8). Jeremias escapou (Jeremias 37: 11–12) e Jeremias ficou (38:17). Cristo se retirou (Lucas 9:10) e Cristo ficou (João 18: 1–8). Paulo escapou (2 Coríntios 11:33) e Paulo ficou (Atos 20: 22–23)...

Não escape porque você está dominado pelo medo, mas sim porque escapar é uma ordenança de Deus, que providencia para alguns uma porta aberta para a fuga, porta que é aberta pela providência de Deus, e escape que é baseado na Palavra de Deus” (Mateus 10:23), Obras de John Bunyan, volume 2, página 726 - tradução livre).

7. O chamado bíblico é para provisão e proteção.
Quando a Bíblia diz que “A religião pura e sem macula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações...” (Tiago 1:27 ARA), isso significa que os cristãos com recursos e poder tomem iniciativas em favor dos mais fracos. O "visitar" neste texto não é apenas uma visitinha. É para ajudar - para providenciar o necessário e para proteção. A questão é a seguinte: quando Jesus ordena a seus discípulos oferecer a outra face (Mateus 5:39), ele não quer dizer que, se eu puder fazer algo a respeito, devo permitir que você seja estapeado novamente. É a união no corpo de Cristo que quebra o ciclo da injustiça.

Meu apelo final é para todos os homens cristãos, e em particular aos líderes das igrejas: Proclamem a bela visão do complementarismo no casamento, cujo chamado para os homens é de assumir a responsabilidade não apenas por sua própria coragem e mansidão, mas também pela mansidão dos outros homens. Inclua na cultura masculina da igreja que os homens não tolerem o abuso de nenhuma de suas mulheres.


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Traduzido com permissão.