Marshall Segal
O que é
mais perigoso para a alma humana: dinheiro ou teologia?
Dinheiro
seria a resposta mais fácil. Paulo nos adverte: “pois o amor
ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o
dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos” (1
Timóteo 6:10 NVI). Se você amar o dinheiro – e o que ele pode comprar – mais do
que você ama a Deus, você se sentirá destituído de Deus e experimentará
terrível e inesgotável dor longe dEle.
O próprio Jesus diz: “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará
um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem
servir a Deus e ao Dinheiro” (Mateus 6:24 NVI; leia também Hebreus 13:5). O Deus do
cristianismo e o deus dinheiro são irreconciliavelmente opostos. Eles não podem
ocupar o mesmo espaço no coração humano. Se você estiver servindo ao deus
dinheiro – ocupando-se em ganhar, ajuntar e gastar – você certamente não está
servindo a Deus.
Mas seria o dinheiro espiritualmente mais perigoso do que a teologia? A
resposta pode ser mais complicada do que imaginamos, especialmente quando
consideramos o conforto entorpecente e a orgulhosa afluência e educação da
igreja americana. O dinheiro é um deus palpável, mensurável e geralmente
visível. A teologia, por outro lado – se for isolada do conhecimento verdadeiro
de Deus e da adoração a Ele – pode tornar-se um deus sutil, paralisante e que
produz uma espiritualidade superficial. Ambos são mortais, mas um deles nos conduz
a uma confiança e um descanso em Deus que são cheios de orgulho,
intelectualidade e aparências. A teologia irá te aniquilar se não acender em
seu coração um profundo e contínuo amor a Deus e a Bíblia, e se não aumentar
seu desejo de ver a glória de Deus ao invés da sua própria glória.
Boa Teologia é o Único Caminho até Deus
Eu amo teologia, e você deveria também. O objetivo principal da vida e
ministério de Paulo foi conhecer Cristo, e este crucificado (ou seja, conhecer
a teologia cristã); e ele queria conhecer Deus através de Cristo tão
verdadeiramente e completamente quanto possível, inclusive todas as implicações
em relação a tudo que ele pensava, dizia ou fazia (1 Coríntios 2:2). Você não
pode ler as cartas que Paulo escreveu sem chegar à conclusão de que a teologia
impulsionava as batidas do seu coração. Ele vivia para maximizar o conhecimento
sobre este misterioso Deus, e estava pronto para enfrentar até a morte por
causa destas verdades.
O Salmo 119 exalta a revelação de Deus em sua Palavra. O que nós sabemos
a respeito de Deus através da Bíblia é incrível e inesgotavelmente proveitoso
para o ensino, repreensão, correção, instrução na justiça, e para vida (2Timóteo 3:16; João 6:68).
Sem a teologia você não conhecerá Deus – literalmente e espiritualmente.
Então, este artigo não quer promover uma proibição contra a teologia – que Deus
nos livre – mas uma advertência e admoestação a respeito da teologia. O
conhecimento intelectual de Deus pode substituir destrutivamente o autêntico
conhecer relacional de Deus, principalmente para aqueles que são teologicamente
instruídos e convictos. Todos nós deveríamos desejar que nossa teologia fosse
não somente verdadeira, mas também cheia do Espírito e bons frutos.
Os Melhores Leitores Podem Ser os Piores Ouvintes
Os fariseus brigavam com Jesus em cada oportunidade que tinham. Eles
duvidavam e até odiavam muito do que Ele dizia e fazia, tentando inúmeras vezes
armar uma cilada para que Ele caísse na mentira ou em uma inconsistência. Eles
tinham lido a Palavra de Deus diversas vezes. Eles conheciam as escrituras
muito bem – ou é o que parecia – mas eles não conheciam a Palavra Viva,
respirando e falando bem na frente deles – a Palavra através da qual todas as
coisas foram feitas, e sem Ele, nada do que existe teria sido feito (João 1:3),
a Palavra que tornou-se carne e viveu aqui na Terra (João 1:14), a Palavra que é
a expressão exata de Deus e que sustenta o universo pela palavra de sua boca
(Hebreus 1:3).
Marcos relata um destes confrontos entre Jesus e os que eram, naquela
época, considerados especialistas em espiritualidade. “Então os fariseus e os
mestres da lei perguntaram a Jesus: ‘Por que os seus discípulos não vivem de
acordo com a tradição dos líderes religiosos, em vez de comerem o alimento com
as mãos impuras?’”(Marcos 7:5 NVI). Sabemos que os fariseus não estavam
demonstrando humildade ou curiosidade genuína (Mateus 12:14; 22:15). Era uma
provocação – uma tentativa de minar e desonrar o Filho de Deus.
Eles confiavam tanto na própria teologia ao ponto de confrontarem o
próprio Cristo. Eles tentaram sufocá-LO com uma teologia que era mais leve do
que uma pena e mais rasa do que uma poça d’água – Aquele que era o cumprimento
e auge de tudo o que eles tinham lido nas escrituras. Eles desafiaram o próprio
conhecimento de Deus sobre Deus. A educação teológica e o orgulho deles – o
conhecimento e confiança no próprio sistema que desenvolveram – os impediram de
ver a imagem e ouvir a voz de Deus. Eles sabiam tanto a respeito de Deus, e
ainda assim O conheciam tão pouco.
Até os Instruídos Precisam Aprender a Ler
Jesus responde à crítica ignorante e mortífera dos fariseus com as
mesmas escrituras que eles pareciam conhecer profundamente. “Bem profetizou
Isaías acerca de vocês, hipócritas; como está escrito: ‘Este povo me honra com
os lábios, mas o seu coração está longe de mim’” (Marcos 7:6-7 NVI). De acordo com
Jesus, a hipocrisia desconecta o conhecimento de Deus do verdadeiro amor a
Deus. Hipocrisia não é apenas desobediência aos ensinos bíblicos – os fariseus
eram conhecidos por sua evidente “obediência” – mas desilusão com o Deus da
Bíblia. Você pode ter conhecimento a respeito de Deus sem nem mesmo conhecê-LO.
E esta pode ser uma das situações mais perigosas do mundo – por mais
confortável, segura e informada que possa parecer.
Jesus também
diz: “Vocês
negligenciam os mandamentos de Deus” – o que é uma terrível e assustadora
condenação – “e se apegam às tradições dos homens” (Marcos 7:8 NVI). Vocês têm
trocado a verdade a respeito de Deus por imagens da verdade, feitas em sua
própria mente. Vocês têm amado aquilo que aprenderam a respeito de Deus mais do
que vocês amam ao próprio Deus. Vocês têm colocado sua confiança em seu
conhecimento e em sua obediência mais do que nas palavras de Deus. “Por causa
da sua tradição, vocês anulam a palavra de Deus” (Mateus 15:6 NVI).
Você Também Pode dar o Dízimo de Seu Conhecimento Teológico
Então, devemos
temer o dinheiro quando ele afasta nossos corações de Deus e impede nossa
submissão a ELE. E devemos temer nosso sistema teológico quando ele,
sutilmente, faz o mesmo. Em nossa boa disciplina de aprender a respeito de Deus
– lendo, perguntando, ouvindo e escrevendo – devemos também tomar o cuidado de
desenvolver hábitos de adoração a Deus. Comprometa-se a ter uma teologia
correta, mas comprometa-se também a ter uma teologia relacional – marcada por
uma intimidade crescente, humilde e sincera com Deus. Não apenas estude as Escrituras para entender
as doutrinas da salvação, mas busque a salvação – a vida eterna – que é
encontrada unicamente no corpo, sangue e pessoa de Jesus Cristo (João 5:39).
Dê o dízimo de
seu conhecimento teológico. Bem como todo dinheiro pertence a Deus, toda boa
teologia também pertence a Ele – tudo dEle, tudo por Ele e tudo para Ele. Nós
damos dez por cento ou mais de nosso dinheiro a fim de expressar, semana após
semana, que somos gratos e que temos fé e alegria em Deus e para declarar que tudo pertence a Ele. Da mesma maneira,
precisamos desenvolver um padrão de responder a Deus em adoração quando
aprendemos mais a respeito dEle. Aproveite cada oportunidade de oferecer a
Deus, em oração e adoração, aquilo que você tem aprendido sobre Ele.
Faça uma pausa
e ore a Deus as palavras de Deus a respeito de Deus. Mantenha um diário
espiritual a fim de estimular seu coração em relação às coisas que você tem
começado a compreender. Que as verdades que você tem aprendido estejam sempre
em seus lábios para que outros as ouçam e as amem – compartilhe-as com alguém.
Foi esta a reação do salmista ao conhecer mais profundamente a Deus e o seu
amor no Salmo 63: “O teu amor é melhor do que a vida! Por isso os meus lábios te
exaltarão... A minha alma ficará satisfeita como quando tem rico banquete;
com lábios jubilosos a minha boca te louvará” (Salmo 63:3, 5 NVI).
Nunca estaremos
verdadeiramente satisfeitos devido ao nosso conhecimento sobre Deus. Precisamos
conhecer a Deus. Se esta dicotomia não faz sentido para você, tome cuidado.
Fatos a respeito de Deus desprovidos de afeição e de comunhão com Ele – sem a
certeza de que você é um filho (ou filha) escolhido, redimido e conhecido por
Deus – vai causar uma falsa certeza do amor de Deus e da segurança encontrada nEle. Mas fatos a respeito de Deus também podem aproximá-lo de Deus.
Você não pode servir
a Deus e a teologia ao mesmo tempo, mas você pode servir, amar e engrandecer a
Deus através da boa teologia.
Marshall Segal é assistente executivo de John Piper, graduado pelo Bethlehem College & Seminary em Minneapolis, e regularmente escreve sobre assuntos para solteiros e namoro
© 2015 Desiring God Foundation. Website:
Traduzido com permissão por Rachel Machado Soares Beere