sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Vocês Não Podem Servir a Deus e a Teologia


Marshall Segal


O que é mais perigoso para a alma humana: dinheiro ou teologia?

Dinheiro seria a resposta mais fácil. Paulo nos adverte: pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos” (1 Timóteo 6:10 NVI). Se você amar o dinheiro – e o que ele pode comprar – mais do que você ama a Deus, você se sentirá destituído de Deus e experimentará terrível e inesgotável dor longe dEle.

O próprio Jesus diz: “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Mateus 6:24 NVI; leia também Hebreus 13:5). O Deus do cristianismo e o deus dinheiro são irreconciliavelmente opostos. Eles não podem ocupar o mesmo espaço no coração humano. Se você estiver servindo ao deus dinheiro – ocupando-se em ganhar, ajuntar e gastar – você certamente não está servindo a Deus. 

Mas seria o dinheiro espiritualmente mais perigoso do que a teologia? A resposta pode ser mais complicada do que imaginamos, especialmente quando consideramos o conforto entorpecente e a orgulhosa afluência e educação da igreja americana. O dinheiro é um deus palpável, mensurável e geralmente visível. A teologia, por outro lado – se for isolada do conhecimento verdadeiro de Deus e da adoração a Ele – pode tornar-se um deus sutil, paralisante e que produz uma espiritualidade superficial. Ambos são mortais, mas um deles nos conduz a uma confiança e um descanso em Deus que são cheios de orgulho, intelectualidade e aparências. A teologia irá te aniquilar se não acender em seu coração um profundo e contínuo amor a Deus e a Bíblia, e se não aumentar seu desejo de ver a glória de Deus ao invés da sua própria glória. 
 

Boa Teologia é o Único Caminho até Deus 


Eu amo teologia, e você deveria também. O objetivo principal da vida e ministério de Paulo foi conhecer Cristo, e este crucificado (ou seja, conhecer a teologia cristã); e ele queria conhecer Deus através de Cristo tão verdadeiramente e completamente quanto possível, inclusive todas as implicações em relação a tudo que ele pensava, dizia ou fazia (1 Coríntios 2:2). Você não pode ler as cartas que Paulo escreveu sem chegar à conclusão de que a teologia impulsionava as batidas do seu coração. Ele vivia para maximizar o conhecimento sobre este misterioso Deus, e estava pronto para enfrentar até a morte por causa destas verdades.

O Salmo 119 exalta a revelação de Deus em sua Palavra. O que nós sabemos a respeito de Deus através da Bíblia é incrível e inesgotavelmente proveitoso para o ensino, repreensão, correção, instrução na justiça, e para vida (2Timóteo 3:16; João 6:68).

Sem a teologia você não conhecerá Deus – literalmente e espiritualmente. Então, este artigo não quer promover uma proibição contra a teologia – que Deus nos livre – mas uma advertência e admoestação a respeito da teologia. O conhecimento intelectual de Deus pode substituir destrutivamente o autêntico conhecer relacional de Deus, principalmente para aqueles que são teologicamente instruídos e convictos. Todos nós deveríamos desejar que nossa teologia fosse não somente verdadeira, mas também cheia do Espírito e bons frutos. 

Os Melhores Leitores Podem Ser os Piores Ouvintes 


Os fariseus brigavam com Jesus em cada oportunidade que tinham. Eles duvidavam e até odiavam muito do que Ele dizia e fazia, tentando inúmeras vezes armar uma cilada para que Ele caísse na mentira ou em uma inconsistência. Eles tinham lido a Palavra de Deus diversas vezes. Eles conheciam as escrituras muito bem – ou é o que parecia – mas eles não conheciam a Palavra Viva, respirando e falando bem na frente deles – a Palavra através da qual todas as coisas foram feitas, e sem Ele, nada do que existe teria sido feito (João 1:3), a Palavra que tornou-se carne e viveu aqui na Terra (João 1:14), a Palavra que é a expressão exata de Deus e que sustenta o universo pela palavra de sua boca (Hebreus 1:3).

Marcos relata um destes confrontos entre Jesus e os que eram, naquela época, considerados especialistas em espiritualidade. “Então os fariseus e os mestres da lei perguntaram a Jesus: ‘Por que os seus discípulos não vivem de acordo com a tradição dos líderes religiosos, em vez de comerem o alimento com as mãos impuras?’”(Marcos 7:5 NVI). Sabemos que os fariseus não estavam demonstrando humildade ou curiosidade genuína (Mateus 12:14; 22:15). Era uma provocação – uma tentativa de minar e desonrar o Filho de Deus.

Eles confiavam tanto na própria teologia ao ponto de confrontarem o próprio Cristo. Eles tentaram sufocá-LO com uma teologia que era mais leve do que uma pena e mais rasa do que uma poça d’água – Aquele que era o cumprimento e auge de tudo o que eles tinham lido nas escrituras. Eles desafiaram o próprio conhecimento de Deus sobre Deus. A educação teológica e o orgulho deles – o conhecimento e confiança no próprio sistema que desenvolveram – os impediram de ver a imagem e ouvir a voz de Deus. Eles sabiam tanto a respeito de Deus, e ainda assim O conheciam tão pouco. 

Até os Instruídos Precisam Aprender a Ler 


Jesus responde à crítica ignorante e mortífera dos fariseus com as mesmas escrituras que eles pareciam conhecer profundamente. “Bem profetizou Isaías acerca de vocês, hipócritas; como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim’” (Marcos 7:6-7 NVI). De acordo com Jesus, a hipocrisia desconecta o conhecimento de Deus do verdadeiro amor a Deus. Hipocrisia não é apenas desobediência aos ensinos bíblicos – os fariseus eram conhecidos por sua evidente “obediência” – mas desilusão com o Deus da Bíblia. Você pode ter conhecimento a respeito de Deus sem nem mesmo conhecê-LO. E esta pode ser uma das situações mais perigosas do mundo – por mais confortável, segura e informada que possa parecer.

Jesus também diz: Vocês negligenciam os mandamentos de Deus” – o que é uma terrível e assustadora condenação – “e se apegam às tradições dos homens” (Marcos 7:8 NVI). Vocês têm trocado a verdade a respeito de Deus por imagens da verdade, feitas em sua própria mente. Vocês têm amado aquilo que aprenderam a respeito de Deus mais do que vocês amam ao próprio Deus. Vocês têm colocado sua confiança em seu conhecimento e em sua obediência mais do que nas palavras de Deus. “Por causa da sua tradição, vocês anulam a palavra de Deus” (Mateus 15:6 NVI). 

Você Também Pode dar o Dízimo de Seu Conhecimento Teológico 


Então, devemos temer o dinheiro quando ele afasta nossos corações de Deus e impede nossa submissão a ELE. E devemos temer nosso sistema teológico quando ele, sutilmente, faz o mesmo. Em nossa boa disciplina de aprender a respeito de Deus – lendo, perguntando, ouvindo e escrevendo – devemos também tomar o cuidado de desenvolver hábitos de adoração a Deus. Comprometa-se a ter uma teologia correta, mas comprometa-se também a ter uma teologia relacional – marcada por uma intimidade crescente, humilde e sincera com Deus.  Não apenas estude as Escrituras para entender as doutrinas da salvação, mas busque a salvação – a vida eterna – que é encontrada unicamente no corpo, sangue e pessoa de Jesus Cristo (João 5:39).

Dê o dízimo de seu conhecimento teológico. Bem como todo dinheiro pertence a Deus, toda boa teologia também pertence a Ele – tudo dEle, tudo por Ele e tudo para Ele. Nós damos dez por cento ou mais de nosso dinheiro a fim de expressar, semana após semana, que somos gratos e que temos fé e alegria em Deus e para declarar que tudo pertence a Ele. Da mesma maneira, precisamos desenvolver um padrão de responder a Deus em adoração quando aprendemos mais a respeito dEle. Aproveite cada oportunidade de oferecer a Deus, em oração e adoração, aquilo que você tem aprendido sobre Ele.

Faça uma pausa e ore a Deus as palavras de Deus a respeito de Deus. Mantenha um diário espiritual a fim de estimular seu coração em relação às coisas que você tem começado a compreender. Que as verdades que você tem aprendido estejam sempre em seus lábios para que outros as ouçam e as amem – compartilhe-as com alguém. Foi esta a reação do salmista ao conhecer mais profundamente a Deus e o seu amor no Salmo 63: O teu amor é melhor do que a vida! Por isso os meus lábios te exaltarão... A minha alma ficará satisfeita como quando tem rico banquete; com lábios jubilosos a minha boca te louvará” (Salmo 63:3, 5 NVI).

Nunca estaremos verdadeiramente satisfeitos devido ao nosso conhecimento sobre Deus. Precisamos conhecer a Deus. Se esta dicotomia não faz sentido para você, tome cuidado. Fatos a respeito de Deus desprovidos de afeição e de comunhão com Ele – sem a certeza de que você é um filho (ou filha) escolhido, redimido e conhecido por Deus – vai causar uma falsa certeza do amor de Deus e da segurança encontrada nEle. Mas fatos a respeito de Deus também podem aproximá-lo de Deus.

Você não pode servir a Deus e a teologia ao mesmo tempo, mas você pode servir, amar e engrandecer a Deus através da boa teologia.
 
Marshall Segal é assistente executivo de John Piper, graduado pelo Bethlehem College & Seminary em Minneapolis, e regularmente escreve sobre assuntos para solteiros e namoro

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Traduzido com permissão por Rachel Machado Soares Beere