Stacy Reaoch
A palavra que é uma das últimas novidades nos círculos cristãos, e em
todos os outros lugares, é "orgânica." Como uma sociedade, nós
estamos gastando uma enorme quantidade de dinheiro comprando produtos
orgânicos, ovos produzidos por galinhas criadas ao ar livre, e carne de vaca
alimentada somente com capim. Qualquer coisa com o rótulo "natural"
está se tornando o método preferido, mesmo quando não estamos totalmente certos
do que realmente significa "tudo natural." Para alguns, os óleos
essenciais estão substituindo os remédios tradicionais, com a promessa de curar
tudo, desde um simples resfriado até uma doença crônica.
Comer alimentos orgânicos e usar remédios não tradicionais certamente
pode ser de grande valia, mas existe o perigo de desenvolvermos um senso de
superioridade que vem associado com esse estilo de vida. Em nosso esforço para
adotarmos um estilo de vida mais orgânico e natural, pode ser fácil começar a
olhar com desdém para alguém que não tomou esta decisão. Quando promovemos as nossas
próprias escolhas de alimento e remédios como se fosse o mais novo método de
evangelismo, estamos mostrando onde realmente está a nossa esperança; e mostramos
também que estamos perto de esquecermos o evangelho que afirmamos amar.
Quero deixar bem claro que eu não sou contra uma alimentação saudável.
Eu concordo plenamente que o que comemos tem um efeito significante sobre nós e
que devemos ser bons administradores de nossos corpos. Treinamento físico, o
que inclui a responsabilidade de bons hábitos alimentares, apresenta algum
valor (1 Timoteo 4:8). Mas a minha crescente preocupação em relação às nossas
comunidades cristãs é de que sejamos cuidadosos para não nos tornemos mais empenhados
em convencer outros a alimentar suas famílias da mesma maneira que nos
alimentamos, ao invés de mostrar a eles o caminho até Cristo.
Assuntos Controvertidos
Uma querida amiga do ministério de mulheres me contou sobre alguns insistentes
pedidos que recebeu para conduzir estudos bíblicos sobre hábitos alimentares
saudáveis. Mas será que a Bíblia realmente nos diz o suficiente a respeito do
que devemos comer em cada refeição? Será que temos o direito, como crentes, de
dizer aos outros o que seria uma opção mais bíblica de cardápio?
Romanos 14 trata exatamente desse tipo de questionamento. As escolhas de
alimentos e remédios são exatamente isso: escolhas. E esses questionamentos se
enquadram em uma categoria bíblica conhecida como "assuntos controvertidos".
Paulo escreve em Romanos 14:1-4:
"Aceitem
o que é fraco na fé, sem discutir assuntos controvertidos. Um crê que pode
comer de tudo; já outro, cuja fé é fraca, come apenas alimentos vegetais.
Aquele que come de tudo não deve desprezar o que não come, e aquele que não
come de tudo não deve condenar aquele que come, pois Deus o aceitou. Quem é você para julgar o servo alheio? É
para o seu senhor que ele está em pé ou cai. E ficará em pé, pois o Senhor é
capaz de o sustentar." (NVI)
No texto, um crente sente a liberdade de comer carne (a despeito da
associação da carne com a religião pagã local), enquanto outro está convencido
que só pode comer legumes. Paulo afirma que essas escolhas a respeito da
comida, mesmo quando houver outras questões envolvidas, dependem da consciência
de cada um. Uma pessoa não é considerada mais justa ou piedosa por causa das
restrições que ela impõe a si mesma, ou das restrições que não impõe a si
mesma. Deus acolheu ambos os crentes – e nós devemos fazer o mesmo.
Devemos nos questionar: será que estamos promovendo um ambiente acolhedor
quando defendemos firmemente nossas opiniões acerca de alimentos e remédios
diante de um grupo de pessoas? Qual é o tom de voz que usamos quando
comunicamos aos outros as escolhas que fazemos referentes ao nosso estilo de vida?
Será que estamos afastando os outros com nossa visão aparentemente arrogante e
irredutível em questões que são puramente de preferência pessoal?
Onde está a sua justiça?
Quando nós nos identificamos firmemente com um certo estilo de vida, existe
uma tentação evidente de acharmos a nossa identidade e justiça naquela
preferência pessoal. Decisões de alimentação, ensino e tratamentos médicos são
áreas de escolha pessoal e familiar que podem se tornar facilmente a causa que
defendemos na vida. Você tem tentando intentamente converter alguém para o
mesmo método de ensino utilizado por sua família? Ou você está tentando fazer
com que todo mundo use os mesmos óleos essências que você utiliza, ao mesmo
tempo em que você olha com desdém para uma irmã em Cristo que optou por tratar
um filho com antibióticos por causa de uma doença.
Se percebermos que nossas conversas revolvem continuamente acerca de um
só assunto que defendemos, é hora de nos perguntarmos se esse assunto tem se
tornado importante demais em nossas vidas. Se estivermos constantemente
passando informações sobre a maneira que nos alimentamos, como tratar de
doenças ou como ensinar as nossas crianças, um sinal de alerta deveria soar em
nossas mentes afim para atentarmos onde realmente estamos colocando a nossa
esperança. Como cristãos, nós temos um alvo e uma esperança que ultrapassam
esses "assuntos controvertidos".
A nossa única grande causa
Somente em Cristo achamos verdadeira sabedoria, esperança e cura. São as
palavras, as promessas e a abrangente verdade de Jesus que deveríamos contar aos
outros com grande paixão, e não os estudos mais recentes que reforçam as
escolhas de nossa família como sendo as mais sábias.
Sejamos conhecidos pelo que os cristãos realmente deveriam ser
conhecidos: uma esperança inabalável e uma confiança imutável no poder de
Cristo para transformar vidas – independente das escolhas que você faz em
relação ao seu cardápio.
©2015 Desiring God Foundation.
www.desiringGod.org (website em inglês com alguns recursos em
português).
http://www.desiringgod.org/articles/organic-food-essential-oils-and-the-gospel-of-grace (texto original em inglês).
Traduzido com permissão por Neyzimar Ferreira Lavalley.