quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Quando Devemos Orar para Deus nos Levar para o Lar Celestial?



 John Piper


Transcrição do áudio

O email de hoje vem de um ouvinte chamado Austin: “Querido Pastor John, eu tenho 17 anos de idade e tenho câncer em estado terminal. Os médicos dizem que meu câncer retornará e que meu corpo não aguenta mais o tratamento com quimioterapia ou transplantes de medula óssea. Deus tem usado estes últimos cinco anos de luta contra o câncer para me aproximar dEle e também usa minha situação para aproximar algumas pessoas dEle. Mas eu estou extremamente cansado e pronto para partir para o lar celestial. Eu não gosto de admitir, mas eu oro para que Deus me leve para o lar celestial, mas Ele continua me sustentando. A resposta dEle é claramente “não” ou “ainda não”. Como eu mantenho minha alegria mesmo quando a vida é difícil e dolorosa?”



Eu sinto que quando me aproximo desta pergunta eu estou entrando em um lugar sagrado. Quero dizer com isso que é um lugar bem pertinho do céu, como se fosse apenas um passo de distância do céu. Estou bem na beirada, e o céu transformou este em um lugar sagrado. É como dar um conselho bem na entrada da porta do templo de Deus. E Ele pode ouvir o que estou dizendo. É claro que Ele pode ouvir o que eu estou dizendo o tempo todo, mas há algo sagrado quando conversamos com alguém que possivelmente estará de pé na presença de Jesus em pouquíssimo tempo.



Então eu quero que Austin saiba que minha fé é fortalecida e meu amor por Deus é intensificado ainda mais ao ouvir a maneira como ele faz a pergunta. Principalmente porque você, Austin, não expressou raiva ou amargura contra Deus. Você pode ter tido estes sentimentos em algum momento, e é claro que Deus pode lidar com isso. Mas você não expressou esses sentimentos. Você parece falar com uma fé extraordinária. E então você já tem o aroma do céu em você e para mim isso é poderosamente fortalecedor.



Então vou concentrar-me nas suas últimas palavras. Você disse: “...eu estou extremamente cansado e pronto para partir para o lar celestial. Eu não gosto de admitir, mas eu oro para que Deus me leve para o lar celestial, mas Ele continua me sustentando. A resposta dEle é claramente ‘não’ ou ‘ainda não’. Como eu mantenho minha alegria mesmo quando a vida é difícil e dolorosa?”



Talvez a primeira coisa que direi na esperança de encorajá-lo é que você não precisa se envergonhar de admitir que está orando para que Deus te leve para o lar celestial. Pelo menos você não precisa sentir vergonha na minha presença. Eu já orei desta maneira muitas vezes e me ofereci para partir muitas vezes se isso fosse ter um impacto maior do que eu permanecer vivo. “Senhor, eu me ofereço a Ti. Tu sabes o que eu desejo na vida. Se perder a minha vida ajudar a atingir este propósito, eu estou pronto. Me leve.”



Francamente, Austin, eu penso que a pessoa que já é discípulo de Jesus por algum tempo e jamais orou para ir estar junto a Ele na morada do céu nunca viu Jesus com clareza ou nunca se envolveu em grande tormento devido ao pecado próprio ou alheio. Paulo não sentia vergonha alguma em dizer que queria morrer e ir estar com Cristo (Filipenses 1:23). É uma honra para Cristo querer deixar esta vida para estar com Ele. Mas você, Austin, está claramente correto em acreditar que isso é uma decisão que cabe a Deus, não a você. Suicídio – assistido, por misericórdia, ou qualquer outro tipo – não é somente um autoassassinato, mas também uma inversão de papel com Deus, e você está certo em deixar isso nas mãos de Deus. Então, sua grande dificuldade é achar uma maneira de manter a alegria em meio a uma vida cheia de dor, curta ou longa, até o dia que Deus reservou para você como o final.



Muitas coisas poderiam ser ditas, mas vou começar com algo que tem sido prioridade para mim neste momento. Estou lendo uma biografia de John Knox. Vou deixar John Knox concluir meu pensamento. Quando John Knox, o grande líder da reforma na Escócia, estava morrendo em 1572, ele pediu que sua esposa lesse para ele duas coisas. Primeiro, ele disse, “vá ao lugar onde eu inicialmente lancei minha âncora,” referindo-se aos primeiros sermões que ele havia pregado sobre João 17: Depois de dizer isso, Jesus olhou para o céu e orou: ‘Pai, chegou a hora. Glorifica o teu Filho, para que o teu Filho te glorifique. Pois lhe deste autoridade sobre toda a humanidade, para que conceda a vida eterna a todos os que lhe deste.  Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste’” (João 17:1-3 NVI).



E então Knox pediu a sua esposa que lesse para ele os sermões de João Calvino sobre Efésios 1:3-6, que diz: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo. Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graça” (NVI).



Então Knox queria morrer firmando os pés na rocha do amor e da graça absolutamente gratuitos da escolha de Deus. Ele queria ouvir em João 17:2, direto dos lábios de Jesus, “Eu concedo a vida eterna para todos os que Tu me deste.” Ele queria relembrar que Deus o havia escolhido e dado ao Filho, e que o Filho tem autoridade infalível para dar vida eterna a todos os que Deus escolheu e deu para o Filho.  Knox queria ouvir do apóstolo Paulo que antes da fundação do mundo ele havia sido escolhido para o louvor da Sua gloriosa graça.



Eu nunca passei pela experiência que o Austin está passando, a não ser talvez alguns anos atrás por algumas semanas quando fui diagnosticado com câncer, que depois foi constatado ser tratável. Mas John Knox percorreu este caminho até o fim de sua vida. Talvez um simples panorama de como ele foi conduzido até a presença de Jesus no final de sua vida poderá ajudar.



Alguém pode dizer: “Como é que pode a doutrina da eleição incondicional ajudar a pessoa que está morrendo?” Minha resposta é baseada em três afirmativas:

  1. Nenhuma outra doutrina esclarece melhor que nenhum pecado meu poderia jamais ser motivo para Deus recusar-se a escolher-me. Ele me escolheu incondicionalmente – absolutamente incondicionalmente antes do meu nascimento. Portanto, nenhuma previsão de pecado poderia ter impedido Deus de me escolher.
  2. Nenhuma outra doutrina esclarece melhor que a minha salvação é fruto da graça, totalmente graça, totalmente graça, de que eu fui escolhido antes de praticar qualquer coisa boa ou ruim – antes da fundação do mundo.
  3. Nenhuma outra doutrina é mais profunda, mais poderosa e mais segura dos propósitos eternos de Deus. Este é o tipo de rocha na qual precisamos nos firmar no momento da morte.

Pai, eu oro pelo Austin, por outros na mesma situação dele e eventualmente todos nós que como ele receberemos a notícia de que o tempo é curto. Abra para ele, eu oro, as portas do céu e deixe que a luz de Sua gloriosa e soberana graça conduza-o para o lar celestial.


By John Piper ©2015 Desiring God Foundation. 

www.desiringGod.org (website em inglês com alguns recursos em português).

Traduzido com permissão por Rachel Machado Soares Beere.