quarta-feira, 27 de maio de 2015

Teologia da Prosperidade: Enganosa e Mortal



John Piper


Quando ouço a respeito de igrejas que pregam a prosperidade, minha resposta é a seguinte: “Se eu não fosse cristão, não teria vontade de me tornar um.” Em outras palavras, se esta é a mensagem de Jesus, minha resposta seria: não, obrigado.


Atrair as pessoas para Cristo com a finalidade de enriquecer é um engano e é mortal. É um engano porque quando Jesus nos chamou, Ele disse coisas como estas: “Qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:33 NVI). É mortal porque o desejo de ser rico afunda as pessoas “na ruína e na destruição” (1 Timóteo 6:9). Então, aqui vai o meu apelo aos pregadores do evangelho.


1. Não desenvolva uma filosofia de ministério que dificulta a entrada das pessoas no céu.


Jesus disse, “Como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus!” Seus discípulos ficaram surpresos, como deveriam também surpreender-se muitos do movimento da “teologia da prosperidade”. Então Jesus continuou e os surpreendeu ainda mais ao dizer, “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus”. Eles responderam perplexos, “Neste caso, quem pode ser salvo?” Jesus respondeu, “Para o homem é impossível, mas para Deus não; todas as coisas são possíveis para Deus” (Marcos 10:23-27 NVI).


Minha pergunta para os pregadores da prosperidade é a seguinte: Qual a vantagem de desenvolver um ministério que dificulta que as pessoas entrem no céu?


2. Não desenvolva um ministério que estimula as pessoas a terem desejos suicidas. 


Paulo disse, “A piedade com contentamento é grande fonte de lucro, pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar; por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos.” Mas então ele adverte contra o desejo de tornar-se rico. E fica subentendido que ele adverte contra pregadores que atiçam o desejo de tornar-se rico ao invés de ajudar as pessoas a se livrarem deste desejo. Ele adverte, “Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos” (1 Timóteo 6:6-10).


Minha pergunta para os pregadores da prosperidade é a seguinte: Qual a vantagem de desenvolver um ministério que estimula as pessoas a se atormentarem com muitos sofrimentos e a mergulharem na ruína e na destruição?


3. Não desenvolva uma filosofia de ministério que estimula vulnerabilidade à ação da  traça e da ferrugem.


Jesus adverte contra os esforços para acumular tesouros na terra. Isto é, Ele nos fala para sermos generosos, e não acumuladores. “Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam” (Mateus 6:19-20 NVI).


Sim, todos nós acumulamos alguma coisa. Se considerarmos a tendência natural à ganância em cada um de nós, qual a vantagem de eliminarmos Jesus como o ponto central do evangelho e transformá-lo em algo que ele não é?


4. Não desenvolva uma filosofia de ministério que estimula o trabalho duro como forma de acumular riqueza.  


Paulo disse que não deveríamos roubar. A outra opção é trabalhar duro com nossas próprias mãos. Mas o propósito principal não era meramente acumular ou até mesmo ter as coisas. O propósito era “ter para dar”. “Antes trabalhe, fazendo algo de útil com as mãos, para que tenha o que repartir com quem estiver em necessidade” (Efésios 4:28 NVI). Esta não é uma justificativa de ser rico para poder dar mais. É um convite para ganhar mais e acumular menos para que você possa dar mais. Não tem nenhuma razão para que a pessoa que ganha um salário elevado deva viver de forma diferente da pessoa que ganha um salário mais baixo. Viva como se estivesse em tempos de guerra; limite seus gastos e doe o restante.


Qual a vantagem de estimular as pessoas a pensarem que elas devem acumular riquezas a fim de serem doadores generosos? Por que não estimular as pessoas a manterem um estilo de vida simples e tornarem-se doadores ainda mais generosos? Não seria isso um testemunho de generosidade bem como um forte testemunho de que Cristo é o verdadeiro tesouro destas pessoas, e não as riquezas?


5. Não desenvolva uma filosofia de ministério que promove menos fé nas promessas de que Deus é por nós o que o dinheiro não pode ser. 


A razão que o escritor de Hebreus nos diz para nos contentarmos com aquilo que temos é que o oposto indica menos fé nas promessas de Deus. Ele diz, “Conservem-se livres do amor ao dinheiro e contentem-se com o que vocês têm, porque Deus mesmo disse: ‘Nunca o deixarei, nunca o abandonarei.’ Podemos, pois, dizer com confiança: ‘O Senhor é o meu ajudador, não temerei. O que me podem fazer o homens?’” (Hebreus 13:5-6 NVI).


Se a Bíblia nos fala que estarmos contentes com aquilo que temos honra a promessa de Deus de nunca nos abandonar, qual a vantagem de ensinar as pessoas a desejarem ser ricas?


6. Não desenvolva uma filosofia de ministério que contribua para que as pessoas sejam sufocadas até a morte.


Jesus adverte que a palavra de Deus, que tem como finalidade produzir vida, pode ter sua eficácia sufocada até a morte devido às riquezas. Ele diz que a palavra é como uma semente que cresce entre os espinhos que a sufocam até a morte: “As que caíram entre espinhos são os que ouvem, mas, ao seguirem seu caminho, são sufocados... pelas riquezas... desta vida, e não amadurecem” (Lucas 8:14 NVI).


Qual a vantagem de estimular as pessoas a correr atrás daquilo que Jesus adverte irá nos sufocar até a morte?


7. Não desenvolva uma filosofia de ministério que tira o sabor do sal e coloca a luz debaixo de uma vasilha.


Qual a característica dos cristãos que fazem deles o sal da terra e a luz do mundo? Não é a riqueza. O desejo de possuir riquezas e correr atrás de riquezas têm o mesmo sabor e aparência do mundo. Não oferecem ao mundo nada de diferente do que o mundo já acredita. A grande tragédia da teologia da prosperidade é que a pessoa não precisa de um despertar espiritual a fim de aceitá-la; a pessoa precisa ser apenas gananciosa. Tornar-se rico no nome de Jesus não é o sal da terra nem a luz do mundo. Nisto, o mundo apenas vê um reflexo de si mesmo. E se funcionar, haverá quem aderir.


O contexto das palavras de Jesus nos mostra o que são o sal e a luz. Eles são a aceitação de sofrimentos por amor a Cristo, de boa vontade e com alegria. Eis o que disse Jesus, “Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês. Vocês são o sal da terra... Vocês são a luz do mundo” (Mateus 5:11-14 NVI).


O que fará o mundo sentir o sabor (o sal) e ver (a luz) Cristo em nós não é o nosso amor ao dinheiro da mesma maneira que o mundo o ama. Mas é o desejo e a capacidade dos cristãos de demonstrar amor aos outros através do sofrimento e ao mesmo tempo alegrar-se porque sua recompensa está nos céus com Jesus. Isto sim é inexplicável pelo entendimento humano. Isto sim é sobrenatural. Mas atrair as pessoas com promessas de prosperidade é simplesmente normal. Não é a mensagem de Jesus. Não foi para este propósito que Ele morreu. 


©2015 Desiring God Foundation. By John Piper
www.desiringGod.org (website em inglês com alguns recursos em português).

Traduzido com permissão por Rachel Machado Soares Beere