segunda-feira, 23 de março de 2015

A Maternidade é um Chamado (e a Posição de Seus Filhos na Lista de Prioridades)


Rachel Jankovic
 
Alguns anos atrás, quando eu tinha apenas quatro filhos, e o mais velho tinha apenas três anos de idade, eu os aprontei para irmos a uma caminhada. Depois de arrumar as mamadeiras e estarmos todos prontos para sair, minha filha de dois anos de idade me disse: “Ufa! Você está com as mãos cheias!”


Ela poderia ter dito de outra forma: “Você não sabe o que causa tudo isso?” ou “São todos seus?”


Em todo lugar que você vai, as pessoas querem falar sobre seus filhos. Porque você não deveria tê-los, como você poderia tê-los evitado, e porque eles nunca fariam o que você fez. Elas querem te lembrar de que você não estará sorrindo quando eles forem adolescentes. Tudo isso na fila do supermercado, quando os seus filhos escutam o que elas dizem.


Um Emprego de Segunda Categoria?


A verdade é que anos atrás, antes de nascer esta geração atual de mães, nossa sociedade decidiu a classificação dos filhos na lista de prioridades. E quando o aborto foi legalizado nos EUA, nós a transformamos em lei.


A classificação dos filhos é bem abaixo do que da faculdade. Certamente abaixo de viagens internacionais. Abaixo da capacidade de sair de noite para seu lazer. Abaixo de malhar seu corpo na academia. Abaixo de qualquer emprego que você tenha ou espera conseguir. Na verdade, a classificação dos filhos é abaixo do seu desejo de sentar-se na ociosidade, se isso for o que você quiser fazer. Abaixo de tudo mais. Filhos são a última coisa em que você deveria gastar seu tempo.


Se você cresceu nessa sociedade, é muito difícil obter uma perspectiva bíblica da maternidade e pensar com liberdade como uma mulher cristã no que diz respeito a sua vida e seus filhos. O quanto temos dado ouvidos a meias-verdades e meias-mentiras? Será que acreditamos que queremos filhos porque há alguma urgência biológica ou necessidade de engravidar? Será que entramos nessa por causa das roupinhas de bebê que são uma gracinha ou das oportunidades de tirarmos fotografias? Será a maternidade um emprego de segunda categoria para aquelas que não são capazes de fazer outra coisa, ou para aquelas que se satisfazem com o trabalho inesgotável? Se for assim, onde estávamos com a cabeça?


Não é um Passatempo


A maternidade não é um passatempo, é um chamado. Você não coleciona filhos porque eles são mais interessantes do que selos. Não é algo para fazer porque você acredita poder encaixar em sua agenda. É aquilo que Deus te deu tempo para fazer.


Mães cristãs carregam seus filhos em território inimigo. Quando você faz uma aparição pública ao lado de seus filhos, você está tomando partido e defendendo os objetos de aversão cultural. Você está testemunhando publicamente que você valoriza o que Deus valoriza, e que você se recusa a valorizar o que o mundo valoriza. Você se coloca do lado de quem é indefenso e diante do necessitado. Você representa tudo o que a nossa cultura odeia, porque você representa o renunciar de sua vida em favor de outra pessoa – e renunciar sua vida em favor do próximo representa o evangelho.


Nossa cultura simplesmente teme a morte. Renunciar sua própria vida, de qualquer forma que seja, é aterrorizante. É estranho, mas é esse medo que impulsiona a indústria do aborto: medo de que seus sonhos morrerão, de que seu futuro morrerá, de que sua liberdade morrerá – e então a tentativa de escapar dessa morte correndo para os braços da morte. 


Corra para a Cruz


Mas o cristão deve ter um paradigma diferente. Devemos correr para a cruz. Para a morte. Entregue suas esperanças. Entregue seu futuro. Entregue os pequenos aborrecimentos. Entregue o seu desejo de ser reconhecida. Entregue sua impaciência com seus filhos. Entregue o desejo de ter uma casa perfeitamente arrumada. Entregue sua mágoa pelo estilo de vida que você está vivendo. Entregue a vida imaginária que você poderia estar vivendo sozinha. Deixe tudo para trás.


Morte para si mesma não é o fim da história. Nós, cristãos, deveríamos saber o que vem após a morte. A vida cristã é vida de ressurreição, vida que não pode ser destruída pela morte, o tipo de vida que é possível somente se você esteve na cruz e voltou. 


A Bíblia é clara a respeito do valor das crianças. Jesus as amou, e há um mandamento para que nós também as amemos e as eduquemos no amor do Senhor. Nós devemos imitar a Deus e termos prazer em nossos filhos. 


A Questão é Como


A questão não é se você está representando o evangelho, mas como você o está representando. Você tem dado sua vida aos seus filhos com ressentimento? Você calcula cada coisa que você faz por eles como alguém que empresta dinheiro a juros calcula uma dívida? Ou você dá sua vida por eles como Deus nos deu – generosamente?


Fingir não é o suficiente. Você pode enganar algumas pessoas. Aquela pessoa na fila do supermercado pode até acreditar quando você estampar um sorriso fingido, mas seus filhos não acreditarão. Eles sabem exatamente o que você pensa deles. Eles sabem as coisas que você classifica acima deles. Eles sabem tudo o que você guarda de rancor contra eles. Eles sabem que você fingiu uma resposta delicada para a senhora da fila, mas que estará sussurrando ameaças contra eles quando virar as costas e gritando com eles ao entrarem no carro.


Os filhos sabem a diferença entre uma mãe que está tentando manter as aparências na frente de um desconhecido e uma mãe que defende a vida e o valor deles com seu sorriso, seu amor e sua absoluta lealdade.  


Mãos Cheias de Boas Coisas


Quando minha pequena filha me disse: “Você está com as mãos cheias!” Eu me enchi de gratidão por ela já saber a resposta que eu daria. A mesma resposta que eu sempre dei: “Sim, elas estão cheias de boas coisas!” 


Viva o evangelho nas coisas que ninguém vê. Sacrifique por seus filhos em situações que apenas eles saberão. Valorize-os mais que a si mesma. Eduque-os no ar puro de uma vida centrada no evangelho. Seu testemunho do evangelho nos pequenos detalhes de sua vida é mais valioso para eles do que você pode imaginar. Se você ensinar-lhes o evangelho, mas viver para si mesma, eles nunca acreditarão nele.  Viva sua vida diariamente para eles, com alegria. Deixe de lado a mesquinharia. Deixe de lado a imaturidade. Deixe de lado o ressentimento por ter que lavar os pratos, por cuidar das roupas, porque ninguém percebe que seu trabalho é inesgotável.


Pare de apegar-se a si mesma e apegue-se à cruz. Há mais alegria e mais vida e mais riso do outro lado da morte do que você possa carregar sozinha.

Rachel Jankovic (@lizziejank) é esposa, dona de casa e mãe. Ela e seu marido Luke são pais de seis filhos: Evangeline, Daphne, Chloe, Titus, Blaire e Shadrach. Ela é a autora de Loving the Little Years: Motherhood in the Trenches e Fit to Burst: Abundance, Mayhem, and the Joys of Motherhood

©2015 Desiring God Foundation. Website:
www.desiringGod.org
http://desiringgod.org/articles/motherhood-is-a-calling-and-where-your-children-rank

Traduzido com permissão por Rachel Machado Soares Beere